segunda-feira, 7 de novembro de 2011

(em)OCEAN

Encostada ao banco do carro, com os pés no tablier e os dedos a tamborilar no volante ao ritmo de qualquer música que passa na rádio, não sei bem se sou eu quem olha o mar ou se é ele que, por entre o rebentar das ondas, me observa.
Nunca me apeteceu tanto um cigarro; para ser sincera, acho que é esta a primeira vez que realmente quero um. Respiro fundo e fecho os olhos. O frio cortante do ar gela-me de fora para dentro, mas, de alguma maneira, ajuda-me a separar os pensamentos.
Detesto a sensação de impotência. Detesto o facto de saber que não durou, mas que nunca mais acaba. E minto com todos os dentes que tenho na boca quando digo o contrário: faço-o, continuarei a fazê-lo e ai de quem me desminta...sendo que, no fundo, me dói na mesma. Mas ninguém tem de saber.
Desligo o rádio quando, ao fim da terceira música que quase posso jurar ter sido escolhida a dedo, me convenço de que o locutor está atrás da sua mesa, com os seus auriculares, a rir-se de mim a bandeiras despregadas. Mágico. Stupid love songs- alguém disse isto; não quero saber quem foi, mas faz muito sentido.
Estou brutalmente constipada- ainda assim o cheiro a maresia atropela-me os sentidos e apodera-se de mim. Vivo este aroma tão intensamente que posso jurar que me movo por ele. Ouço o telemóvel tocar e deixo que quem está do outro lado ouça a minha voz no atendedor de chamadas. Pelo menos aí vou soar animada. Tenho tentado não usar a máscara, mas às vezes sinto que há quem lhe veja os elásticos quando a maquilhagem não basta. E ligo de novo o rádio: antes a música deprimente que não ter banda sonora, de todo.
Será que vou encontrar o meu caminho? Já não sei quando nem onde o deixei. Já perdi a conta a quantas vezes o procurei no lugar errado. E começo a estar certa de que ando a traçar parábolas. Tenho a memória turva e a vontade fraca. Estou magoada com o rosto que me olha do espelho. Estou a perder o brilho, oh se estou…

domingo, 23 de outubro de 2011

Bubbles


Tenho bolas de sabão cá dentro! Daquelas com mil cores e reflexos, que flutuam, chocam e explodem. Sempre adorei andar a correr atrás delas, e rebentá-las ao murro ou à cabeçada -sim, sempre revelei meia dúzia de tendências não tão femininas assim- rio-me que nem uma perdida, nem eu sei muito bem porquê.
E o melhor da coisa? Fui eu (eu mesma, euzinha, pura e simplesmente EU) que as criei! Elas não dependem de ninguém para cá estar, são minhas e pronto.


Imagine-se todo um mundo de bolas de sabão. Ele é leve, brilhante, dono de uma irrepreensível beleza multicromática...e nele tudo é oco e rebenta.
Ora bem, nesse mundo há dois tipos de habitantes: os "homens-bolha" e os "rebenta-a-bolha" (não será pela nomenclatura muito difícil de os distinguir).
Agora o porquê de pensar nisto- há uma analogia óbvia com o mundo no qual acordo todos os dias.
Conheço uma quantidade incrível de "homens-bolha", fechados no seu limitado horizonte de certezas translúcidas e frágeis. Eles até conseguem ver cá para fora, embora por entre aquela barreira, mas saírem dali é mentira. E o que sei melhor ainda é que há cada vez menos "rebenta-a-bolha" a destruírem essas barreiras ilusórias (mas lindas- atenção!) aos tontos que fazem questão de as preservar.
Considero-me, pessoalmente, uma "rebenta-a-bolha" muito especial. Ando sempre com o meu alfinete desmancha-prazeres, mas tenho uma sacola onde conservo imaculados uma mão cheia de ideais, cada um na sua bolinha de sabão. E a esses protejo com a vida: no dia em que essas ilusões acabarem não sei de que vou viver.
(Ainda não sei se gosto ou não das bolas de sabão.)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

São como as cerejas

“Gostava de saber no que estás a pensar.”

Ai não, não gostavas. Sorri e olhei para o lado, evitando a conversa e o pensamento. Havia de ser engraçado: por uma vez esquecer consequências, formalidades e normas e despejar tudo cá para fora. Bolas, sem limites! Havia de falar durante uma semana, nada de interrupções!

Para algumas ideias ainda teria de inventar palavras. Outras, nem com mímica conseguiria explicar. Entendam-me: no dia em que eu abrir a minha cabecinha para uma visita guiada os felizes contemplados saem de lá malucos. Não é por mal, mas se imaginarem a fábrica de chocolates Willy Wonka cruzada com a biblioteca do Cairo e a casa do terror que havia aqui na Feira Popular calculo que até percam até a vontade.

Estão a ver os Oompa-Loompas? E os Minions? Bem, eu tenho uns seres, também, andam algures entre esses dois. E eles funcionam como uma espécie de grilos da consciência, mas não dão propriamente conselhos: estão lá, mandam comentários e dicas (na maior parte da vezes idiotas), e fazem grandes representações dos assuntos sobre os quais estou a conversar num palco que tenho especificamente para isso. Portanto imaginem, eu estou a conversar –e isto acontece maioritariamente nas vezes em que o tema não me interessa/agrada/motiva- e vêm à baila, por exemplo, computadores. Ai, como eu detesto! Os meus “Oompa-Minions”, no seu dialecto muito próprio, sobem para o seu lugar sob as luzes da ribalta e representam brilhantemente um comédia nerd para uma assistência composta apenas e só por mim. E eu farto-me de rir, coisa que, infelizmente, não acontece só na minha cabeça (“Rita, estás-te a rir de quê?”- ai, se tu soubesses…).

Depois há todo o processo de filtragem a que procedo antes de dizer seja o que for. Eu penso demais: tenho ideias, opiniões, preconceitos e teorias sobre tudo. Uns são muito estúpidos, outros são muito íntimos, alguns chegam a sair cá para fora…mas a maioria dos pensamentos fica, e fica muito bem, no arquivo. Há segredos a manter. Há coisas que se na altura certa não vieram à baila, agora vão ficar para sempre a apodrecer na memória. Há implicações de terceiros. Há que saber, quando damos conselhos, distinguir aquilo que podemos dizer porque nos é vantajoso daquilo que realmente é útil e essencial para a pessoa que no-lo pediu. E bolas, há repercussões no futuro! Portanto sim, eu paro para pensar, fico com aquela cara que a maioria de vocês conhece e assumo uma expressão característica…mas, pelo amor de Deus, não me peçam para contar!

Quem ousa pedir…bem, então que se sinta preparado para arcar com as consequências. Porque eu posso querer conversar: no dia em que alguém me fizer sentir vontade de vomitar a alma poderei morrer em paz. Mas isto cá dentro é um circo, e vai ser precisa muita coragem para o desbravar.
Fico-me, na maioria das vezes, pelo silêncio agridoce. Sei que a expressão do olhar me trai, mas quanto a isso não há nada a fazer: ele não mente, nunca soube como o fazer.

(Não confundir conversar com falar. Eu falo que me desunho, a expressão “falar pelos cotovelos” quase podia ter nascido a pensar em mim. Mas o que eu realmente gosto –e preciso- é de ter conversas. Conversas longas e pausadas; conversas que dão três voltas ao âmago, ruminam meia dúzia de argumentos e lapidam conclusões geniais. Conversas daquelas que definem em pensamentos as pessoas que lá estão. Conversas que fazem amizades de minutos durar vidas inteiras. E essas conversas, minha gente, essas sim são como as cerejas: deixam água na boca, pedem por mais. Mas será que ainda tenho com quem conversar?)

domingo, 16 de outubro de 2011

Gelado

Will Cotton- Ice cream cavern
Começo a achar que os momentos da minha vida que fazem mais sentido -e que remetem mais aos sentidos- estão directamente relacionados com gelado (estarão os meus neurónios apaixonados pelas minhas papilas gustativas, de tal maneira que o regozijo delas os deixe também em êxtase?). Não deixa de ser uma ideia apelativa, ainda assim talvez seja melhor começar já a prevenir e aumentar a dose semanal de exercício.
Era uma e tal da manhã quando cheguei a casa e me apercebi deste facto que tem tanto de maravilhoso quanto de assustador. Agora são seis e eu há mais de uma hora que estou acordada, portanto, verdade seja dita, não tive muito tempo para dormir sobre o assunto. Literalmente. Mas a ideia ainda me soa bem.
Se for verdade, então talvez seja melhor pensar em associar os sabores aos sentimentos/assuntos em questão.
"Não posso comprar felicidade, mas posso comprar gelado e é mais ou menos a mesma coisa."

(A outra ideia a que associo os momentos mais marcantes da minha vida é a praia das Avencas. Mas creio que nesse caso o motivo é diferente. É a minha primeira casa. É lá que está a minha "família". E por falar em parentesco, tenho outro texto para escrever...)

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

'Tá quietinho (Um Deus de trazer por casa)

Faz o que te mandam. Segue as regras. Passa na passadeira, não fales a estranhos, come a sopa. Olha os teus pais. Não digas isso. Entra a horas, baixa a cabeça, olha que está mau. Deus castiga. Ajeita a camisa, penteia-te. FAZ O QUE TE MANDAM.

Não- um tremendo, redondo e absoluto não. Não sou menina de calar a boca, não tenho jeito para hipocrisias e perdi a capacidade de ser cínica (que às vezes até dava jeito, mas enfim, foi-se!). E não sou uma marioneta nas mãos seja de quem for: jamais. Há algo muito puro e forte cá dentro: vontade. Mas é preciso encontrá-la, lutar por ela e quebrar as correntes que a rodeiam.

(Para ser sincera, também ainda preciso de derrubar meia dúzia de muros para lá chegar. Estou demasiado acomodada à rotina, tenho medo que a liberdade me leve o chão e me faça espalhar ao comprido. Estou presa a esta zona de conforto que não me faz feliz nem me abre horizontes, mas deixo-me cá estar porque tenho o meu pequeno buraco. Mas eu não quero um buraco- eu quero muito mais. (Já cheguei à beira do precipício…vá lá, Rita, é só dar o passo em frente!))

Não sou a Bela- sou o Monstro. O bicho no armário, o papão debaixo da cama. O olhar trocista. O esgar de desprezo. Eu piso a relva. Durmo nua. Eu provoco. Faço questão de meter o dedo na ferida…de escarafunchar lá dentro, assim é que é. E então? Uma parede bem segura não cai: testar os alicerces é a melhor forma de ver se a casa aguenta tempestades. O problema- andamos todos a construir na areia. Estamos todos de trela, uma peça agarra na outra, não posso dar um passo em frente porque senão como será o amanhã…’tá quietinho, ou lebas no focinho!

Pelo menos eu corro. Ando à chuva. Meto os pés pelas mãos, espalho-me, choro…vivo à minha maneira. Tenho dúvidas e soluções. Geralmente sobram-me as soluções quando escasseiam os problemas...e quando tenho dúvidas, só sobram mesmo outros problemas. Mas eu posso dizer que me rio com alma, que fiz as minhas escolhas e que traço o meu rumo. Que estou com quem quero porque quero e quando quero, que amo uma vez de cada vez (quando é sincero, até amar de novo, sem obrigações nem porquês). E sei quem é que devo culpar quando estou na fossa: a quantidade de vezes que já fui o mais profundamente ordinária comigo mesma.

Agora… se queres ser mais um, força; se queres ser um a mais, por mim tudo bem. Eu prefiro ser procurada toda a minha vida por fugir a ser outra nas fileiras. A mim, deixai-me cair em tentação. Não me livreis do mal: ajudai-me a distingui-lo. Dai-me pêlos na venta, salvo seja.

sábado, 24 de setembro de 2011

Angelologia

No centro do salão a jaula refulgia sob o efeito das luzes do tecto, cada grossa barra de metal com quatro sombras. Ele, a um canto, de joelhos encostados ao peito e cabeça baixa, não parecia ameaça digna de tamanho aparato.

Ela entrou, os saltos dos seus sapatos ecoando no vazio. Para além disso, o único som audível era o respirar dele, pesado, como se rosnasse, um ruído forte, vibrante.

Parou perto do gradeamento, onde o cheiro dele no ar era intenso e se entranhava. Nunca sentira nada parecido: a fragrância máscula tinha um toque fresco (a mar?), e fazia com que ela se sentisse embalada, tonta.

De repente ele levantou a cabeça. Os olhos, quase pretos, eram luxúria no estado líquido, tão profundos e penetrantes que a fizeram corar. Sentia-se nua perante aquela criatura, vulnerável, como se ele lhe lesse os pensamentos e adivinhasse os gestos. Viu-lhe os cantos da boca levantar, apenas ligeiramente, como se o embaraço dela o animasse.

“O que raio és tu?”, pensou. Ele, como se ouvisse, levantou-se e esticou as asas. Magnificas…a penugem espessa, de um branco brilhante, cobria-as inteiramente. Deviam medir mais de um metro de altura, um pouco mais ainda de largura, cada uma. O corpo, moreno, era forte e definido. E de todo o lado lhe saiam tubos, cateteres, drenos…todo o tipo de fluidos lhe eram retirados do corpo para pequenos sacos pendurados.

Ela tremeu e vacilou quando uma tremenda dor de cabeça se apoderou da sua força. Num esgar de dor caiu de joelhos no chão, as mãos puxando o cabelo como se a pudesse arrancar por ali. Na sua mente passavam rapidamente imagens de um mundo de horrores, tão negro que nem os seus piores pesadelos pareciam dignos de comparação. Histórias de violações, de crimes, de sangue, guerra e mutilação. Histórias de política, de medicina; casos de violência, abuso, depravação. Um mundo de aberrações, o segredo escondido no armário da amiga de infância, o profundo azul: ali estava o álbum de horrores da humanidade, com relatos na primeira pessoa. Este era o anjo que transformava cada minuto negro (de dor, humilhação, vergonha, asco, dilaceração) num tempo difuso que tanto podia -ou não- ter acontecido. Este era o demónio que detinha o poder de lembrar as horas que não são horas.

Quando a dor abrandou a roupa dela estava agarrada ao corpo, ela banhada em suor. Ofegava violentamente como se tivesse corrido do próprio inferno, e chorava. Olhou-o nos olhos: ele, calado, devolveu o olhar. Era uma expressão doce, no entanto. Como se carregasse o pior fardo do universo com prazer. Como se o alivio da mente de quem nunca mais será o mesmo diluísse o tormento que era a sua vida. Ela pensou como podiam ser tão brancas as suas asas, vivendo num tamanho breu.

Num impulso tirou as chaves do bolso das calças e abriu a jaula. As mãos tremiam enquanto lutava por encontrar a maneira de abrir a fechadura. Quando com um estalido a porta se abriu, ele nem se mexeu- ela, no entanto, aproximou-se e passou-lhe as costas da mão pelo rosto. E foi então que ele a agarrou pelos ombros e fechou os olhos.

Ela sentiu o mundo girar, tudo à sua volta se dissolveu até ser só uma massa indistinta. O seu corpo deixou de ter peso, o seu cérebro parou de pensar; ali, num momento que não sabe se existiu de facto, tudo o que sentia era o coração bater (sístole, diástole). E de repente estava em paz, sentiu-se em harmonia com tudo, consigo mesma e com cada ser do universo. De repente todos os pecados lhe pareceram perdoáveis e todas as almas redimíveis, como se o mundo tivesse salvação e a dor fosse apenas uma fase do processo. Sentiu-se capaz de tolerar qualquer provação, de amar acima de qualquer acto. Não fosse a memória de tudo quanto vivera, quase estava capaz de se proclamar Deus.

Quando abriu os olhos sorria, o processo ainda a finalizar. Sentiu o roçar suave de penas nas costas, um equilíbrio diferente na postura, e soube que tinha asas. Mas foi só quando o olhou que se apercebeu do custo do seu gesto. Pretendera salvá-lo, conhecê-lo melhor. Pretenderá libertá-lo daquele pesadelo. E agora via que não era um fardo…que o salvara (não do seu castigo) mas da insaciável curiosidade. Que o tirara das garras da ciência…pagando com a vida dele. O anjo era agora pedra- ela tinha uma dura missão a cumprir.

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Quando a hora não é hora

Um dia de cada vez- repito para mim mesma, enquanto vejo pela janela o tempo mudar. O sol está mais baixo e mais fraco, incomoda os olhos e traz a nostalgia do outono. Na televisão passa um qualquer filme de terror daqueles com adolescentes e muitos gritos; curiosamente, “Cuidado com o que desejas” é a frase cliché que nunca me soou bem…hoje é quase melódica.

Tento conformar-me, não me deixar consumir pela culpa (o que, dependendo do prisma de pensamento, pode ser uma luta atroz ou tão natural quanto respirar). Mas, quer eu queira, quer não, a pedra está no sapato e não tenho como tirá-la. Não é propriamente doer, nem impedimento para andar…mas mói, incomoda, chateia.

Será que mudava alguma coisa, se pudesse? Fecho os olhos, respiro fundo, relembro. Bolas, não; não mudava ponta de um corno. Nada que pareça tão certo e natural pode ser assim tão condenável- errado sim, mas e daí? (Daí que agora te sintas a afundar com pés e mãos acorrentados, burra…) Tenho vontade de amachucar a consciência como folha de papel e atirá-la para o balde, para junto dos rascunhos sem valor. Não é uma questão de culpa…é força centrífuga, não há como evitar. Mas então porque me pesa tanto o ego? E ainda assim não mudava. Hei-de arder no inferno, mas olha, pelo menos vivi à minha maneira (e vou lá ter conhecidos, oh se vou!).

Entretanto o sol já foi: o espelho devolve-me a imagem duma Rita alaranjada, com o cabelo desalinhado e um semblante pensativo. Já desliguei a televisão, agora as colunas tocam baixinho (Foreigner, um grande som, Urgent. Já batia ao Lou Gramm por me estar aqui a encher os ouvidos com uma emergência que também me atormenta). Aconchego-me em mim, escalda-me a pele e a alma- nenhuma das sensações é inteiramente desagradável e, no entanto, alguma delas me está a arrepiar a nuca.

Sinto demais, e tenho uma tendência impressionante para o desafio (a pedra que mexe, o carro sem travões, o precipício!). Condenem-me. Um dia tudo vai bater certo. Hoje só não é o dia.

sábado, 17 de setembro de 2011

Sete Pecados


São originalmente sete, mundialmente famosos e base para filmes, livros, músicas e variadíssimas discussões. Na minha opinião, os pecados capitais -mortais, para dar um ar mais terrível- estão desactualizados. Obsoletos. Ultrapassados.

Luxúria, gula, inveja, ganância, ira, preguiça, vaidade: vejamos o caso ao pormenor.
Luxúria. Este custa-me solenemente: para ser sincera, acho que é daquelas coisas que dá felicidade, não prejudica ninguém nem corrompe. É vital e necessário? Não, nem perto- mas sabe bem. Moralmente, pelo menos no meu ponto de vista, não fere. Preservo os meus valores imaculados se tiver relações sexuais por prazer ou se passar o dia numa banheira de espuma…e, como se não bastasse, ambas as situações me melhoram o humor e (em consequência) a relação com o próximo. É preciso é boa disposição. Não está de acordo com os valores religiosos- temos pena. Se calhar o problema é essa mesma pirâmide de valores, há pecados bem maiores. O divórcio também não está e se for em prol da felicidade e do bem-estar geral faz todo o sentido, e é a opção correcta. Se não pesar na consciência, luxúria é das coisas mais docemente prazerosas que conheço. O mesmo se aplica às variantes sensualidade e lascívia. Um valente: “CULPADA”.
Gula. Pronto: não é bonito, saudável, útil, necessário nem (a um nível exagerado) prazeroso- é um vício redondo. Mas daí a estar no top7…não será exagero? Querer e consumir mais do que o necessário é uma tendência natural do Homem, justificada cientificamente. A sobrevivência da espécie passou por acumular para não passar necessidade, consumir acima do necessário (quando há disponibilidade) porque mais tarde poderá escassear. É uma espécie de herança comportamental, que faz sentido. Eu percebo os gulosos…vai ,não vai, junto-me ao grupo. Principalmente se incluirmos um geladinho ou um cesto cheio de nachos com queijo e guacamole no pacote.

Inveja. Bem, este já tem a balança mais equilibrada: pelo menos não é bonito. Vivemos num mundo em crise constante – quer financeira, quer de valores- onde as oportunidades são escassas e o que não falta é concorrência (por vezes) desleal. Cobiçar o alheio é mais natural do que pecaminoso, por princípio. E é dessa inveja que nasce a vontade, (quiçá) a motivação, para lutar por mais e melhor. Se lhe chamar “seguir o bom exemplo alheio”, no fundo, é a mesma coisa; mas é praticamente de louvar e não está errado. “Eu, cobiçar aquela vivenda com piscina, barbecue e campo de ténis? Não! Estou só a dizer que o modelo de vida daquele senhor empresário no bruto fato Armani que a comprou é nobre, vou fazer tal e qual.” –e, sinceramente, qual é o problema? Não que esteja correcto e seja bonito, mas daí a ser condenável vai um bocadinho. Devo ser feliz com o que tenho…mas se desejar mais ninguém leva a mal. Olhar para a galinha da vizinha não tem pecado nenhum, mas pelo menos que dê também valor à minha. De qualquer modo, este é um a evitar.

Ganância, ou avareza (segundo a Igreja Católica são uma e a mesma coisa). Ah. Este já é outro patamar, que faz na minha cabecinha muito mais sentido. É sem dúvida o pecado que considero condenável. Invejar é uma coisa que, controladamente, pode até ser saudável: a ganância é uma idolatria excessiva e descontrolada pelo material que passa por cima de tudo e todos. É um hino ao dinheiro que destrói a humanidade de cada um, e que leva ao isolamento. Uma espécie de auto-estrada sem fim nem saídas. Não gosto nada.

Ira. Não passamos todos por lá? É um impulso pouco correcto, mas não há como contê-lo vivendo no século XXI. Há más acções, más pessoas, acasos azarentos, abismos. Há buracos muito grandes- não faltam provocações que plantem a semente da raiva algures cá dentro. E ela ou é descarregada…ou cresce. Ódio, rancor, vingança. Bem, se evoluir até aqui, então sim, também condeno. Mas, nestes escassos anos de vida, já estive uma mão cheia de vezes (pelo menos) furiosa. Já perdi a cabeça, disse e fiz mais do que devia. Já, certamente, ultrapassei os limites do razoável e invadi o domínio do “outro”. E não me considero assim tão má pessoa.

Preguiça. Haja dó. Noventa por cento das pessoas que conheço são preguiçosas, algumas mesmo ao extremo. E a grande maioria delas não merece condenação por isso. Mais uma vez, as circunstâncias em que vivemos são propícias a um estado de cansaço e moleza que nos atira para o sofá. E momentos de ócio são necessários. Existindo uma conciliação entre trabalho e inactividade que permita à pessoa ter um nível de vida que a satisfaça sem incomodar ninguém…então que molengue à vontade no tempo livre. Havendo esmero e empenho quando é necessário, há tempo para tudo. Até para ficar esparramado na cama um dia inteiro.

Vaidade. ADMITO- precisava de começar por aqui! Também chamada de soberba (que será provavelmente um termo mais correcto, eu é que sou menos simpatizante). Não precisa de ser uma questão tangente à arrogância e ao orgulho, na minha opinião. Uma pessoa deve-se esmerar nos actos, nos sonhos, no pensamento…porque não na imagem? Qual é o pecado de querer parecer o melhor possível? É por estar ligada à luxúria? É juntar o útil ao agradável…e torná-lo quase divino (cheira-me que o problema é esse). Eu acho muito bem: se eu não gostar de mim, quem gostará?

Fazendo uma avaliação- vou arder no inferno! Tirando a ganância e a ira (do qual sofro pouco), confesso que estes pecados são quase traços de personalidade. Bastante gerais, por sinal.

E então quais serão os crimes e instintos humanos merecedores de condenação? As paixões a conter? Destes, manteria a ganância. Mas não faz muito mais sentido a pedofilia? A violência? O abuso dos recursos naturais? Roubar? Violar os direitos humanos, no geral, é muito pior que ser vaidoso, preguiçoso e guloso (juntos). Digo eu. Mas façam o favor de me dar a vossa opinião.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Parêntesis mental


Às vezes penso no quanto te quero tão intensamente que juro que se olhares para mim, ouves. Desvio o olhar, coro, rio-me. É tão ridículo, mas faz-me feliz. Profundamente. Sinto-me...viva- sim, é isso mesmo. Capaz.

Acho sempre que nunca mais me vou voltar a apaixonar, e acabo sempre por cair na mesma raiz levantada. É aquela coisa que anda de noite: a tomada está a dar choque, ora mete lá o dedo! Não tem ponta de racionalidade; simples, sinto e sabe-me bem. Merda. Hoje apetece-me adormecer do teu lado.
Queres fazer o favor de me sair da cabeça? Mas que falta de respeito...

(ps: O post mais idiota de uma vida)

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Não é uma música d'Os Pontos Negros, mas poderia ser (Conto de Fadas da Madorna à Parede)

(Já desabafei, agora vou fantasiar.)


Ela precisa de mais. O mundo gira, o relógio não pára, mas a cama – vazia- parece impune e quase divina, omnipotente. Quem haveria de dizer que o cinza-tecnológico (nome técnico que cobre desde meios de transporte e vitrines a telemóveis e redes sociais) lhe dava um tédio de morte, que a luz artificial lhe feria os olhos e a comunicação social exercia um efeito diurético na sua cabeça? Ninguém, mas, voilá!, é a mais pura das verdades.
Ele vive a vida como é, consciente de que os que interessam não se importam e que os que se importam não interessam. Ele luta, pensa, faz. Mas ele não é completo.
Ela, enrolada nos lençóis, não vai sair da cama. Não quer sair para enfrentar uma humanidade mecânica em que todos têm o mesmo conteúdo e uma carcaça também semelhante. Ela é diferente, e está cansada do pára-arranca social. *(Parafuso e fluido em lugar de articulação, até achava que aqui batia um coração; nada é orgânico, é tudo programado, e eu achando que tinha me libertado…mas lá vêm eles, novamente, eu sei o que vão fazer: reinstalar o sistema!)

Ele rema contra a maré. Foge das massas e fecha os olhos quando o vento lhe bate na cara. Ele pensa mais do que fala, é mais do que aparenta. É especial e desconhece. Tem dúvidas, questões, medos; não sabe se é a ovelha negra ou uma espécie de águia num mundo de galinhas.
Ela lê tanto que já tem o cheiro do papel entranhado nos dedos. Ele acha que o melhor perfume é o de roupa lavada. Ela tem um sorriso fantástico. Ele podia passar o resto dos dias a dar-lhe motivos para sorrir.

Eles encontram-se junto ao mar. A cama dela já não está vazia. O mundo dele já está completo. Ela já não precisa de mais. Ele já tem as suas respostas.
(Não quero estragar o fim, mas vai ficar tudo bem.
Felizes para sempre.)

PS: Tenho saudades da tua boca no meu pescoço. De me sussurrares ao ouvido. De me beijares lentamente. Sinto falta da tua respiração quente, da minha pele arrepiada. Dos segundos, das horas. Ainda não percebi se tenho um vazio cá dentro ou se estou tão cheia que quase rebento. Quero-te. Truly, Madly, Deeply. E já. Ou então para sempre.
*Pitty- Admirável chip novo

Ontem, hoje e (talvez) amanhã

Tenho cada vez mais a noção de que tudo o que construi até agora não passou de um castelo de cartas. Problema: o dito cujo resolveu cair agora, e eu não tenho mãos para o sustentar. (Frágil. Sinto-me frágil.)

A ironia é que eu até tinha orgulho na obra- guardo doces memórias de cada peça colocada quase milimetricamente com uma fé que (se me perguntassem “ontem”) era inabalável. Lembro-me dum sorriso meu e só meu, escancarado, vital…real. Lembro-me duma força que vinha directa (Do coração? Da alma?) de dentro. Lembro-me de gostar de ser eu mesma e de estar comigo.
De alguma maneira desse lugar aberto, ao sol, onde vivia, caminhei para um túnel. Primeiro faltou-me a luz. Depois começou a afunilar. Agora aperta-me de tal maneira que dou graças por já nem ver.
Não percebo o que quer o destino. Não sei que fado é este meu, que me escapa por entre os dedos como água. A força fugiu de mim; não a encontro, se cá está; é um curto engano, se julgo que a agarro.

Não sei por onde pegar. As cartas que seguro desfazem-se em pó como se o seu tempo tivesse passado e eu tivesse perdido a oportunidade. Ao mesmo tempo quero fugir e tenho os tornozelos acorrentados. Tenho medo do futuro, bolas, estou apavorada. E estou triste comigo, tão triste. E exausta, meu Deus…
Alguém lá em cima ou se está a rir, ou se esqueceu de mim.
(A pressão cá dentro é muita, tanta que temo que se tenha dado início ao processo de liquidificação do meu cérebro. Tenho medo de explodir se abrir os olhos. E bolas, choro que nem uma menina. Já caiu o ás de espadas, o rei de copas e a dama de paus. O valete de ouros parece ainda estar do meu lado…sem ele -vocês- não sei o que seria de mim. Acho que é desta que morre o último sonho e o conto de fadas...paz à sua alma. Saibam que eu, um dia, acreditei.)
I keep a journal of memories
I'm feeling lonely, I can't breathe
I fall to pieces, I'm falling
Fell to pieces
and I'm still falling

Every time I'm falling down
All alone I fall to pieces
VELVET REVOLVER- FALL TO PIECES

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Rita e um "Suponhamos"... (Destino)


Acreditas num destino traçado?

Pergunta de merda, desculpem a expressão. Não pela questão que levanta literalmente, mas por todas as outras que lá estão implícitas (sobre as quais tenho pouca vontade de reflectir, e menos ainda de chegar a alguma conclusão).

Foi-me sempre muito fácil acreditar que sou livre. Quer dizer, mesmo aquelas questões sociais e culturais que nos constringem para mim pouca diferença fazem. No fundo eu aceito e (geralmente) até concordo com os princípios pré-estabelecidos: as regras de boa educação, os princípios ético-morais, os direitos e deveres político-sociais, por aí fora. Ter de trabalhar, ir à escola, levantar e deitar a certa hora e morar num sítio fixo não fazem de mim uma pessoa menos responsável pelos meus actos. Mas há coisas que me ultrapassam e hoje, finalmente, vou-me obrigar a pensar sobre isso.

Tenho uma tendência enorme para racionalizar e etiquetar tudo- quando me deparo com uma realidade nova (situação, pessoa, sentimento) o método é levantar questões, apalpar terreno, pensar, testar e concluir. Quase como o científico. Nada me desconserta mais que esbarrar com algo/alguém que derrube esta teoria. Por exemplo, quando experimentamos um desporto ao qual sempre achámos piada (ou mesmo de que nunca tenhamos ouvido falar), que até parece complicado, e de repente somos os maiores naquilo, sem como nem porquê. Ou quando nos cruzamos com alguém que não conhecemos de lado nenhum e temos a sensação de que sempre fomos amigos.

Depois ainda há um patamar pior, que é quando decidimos (por a+b ou simplesmente porque sim) que nos queremos afastar de uma realidade e enveredar por outra. Suponhamos que há uma escolha a fazer (queres um gelado de morango ou baunilha?), e nós lá escolhemos (morango, sff!). Ora, como diria o Toni, isto é só um suponhamos. Porque o gelado uma pessoa pede, come aquele e acabou. Mas há aquelas situações em que a vida parece decidida a escolher por nós: passe o tempo que passar, venha o que vier, havemos de cair na escolha que deliberadamente não fizemos. Conheço um casal que na adolescência tentou uma relação que não resultou. Teve influências de terceiros, depois deixou de ter, enfim, por uma série de acontecimentos cada um seguiu o seu caminho. Casaram (com outras pessoas), tiveram filhos, até perderam o contacto…uns anos depois vêm-se outra vez, começam a falar, e, pimba!, hoje estão juntos. Conheço quem sempre tenha sonhado ser médico, na altura não entrou, tirou arquitectura, estava bem no ramo e financeiramente estável…e aos 45 anos vai tirar medicina.

(“Quer morango ou baunilha?”

“Morango, sff!”

“Ora aqui tem a sua baunilha!”

“Não, não, eu disse morango!”

“Ora, pois, exactamente! Baunilha, como pediu!”)

E depois, tcharan!, a baunilha até se calhar nos sabe melhor. Ou talvez não, não sei. Volto àquela dúvida: será que é porque ao escolher optei pelo mais fácil, mas no fundo sei que o melhor é que me vai fazer feliz? É um bocado perseguição do subconsciente, estar permanentemente a atirar com a hipótese que recusei…será?

Custa-me muito a admitir, mas sim. Acredito num destino traçado. Não por não poder fazer a escolha, porque posso, mas porque algumas coisas são certas para cada um de nós, sem precisar de motivo, explicação ou sentido. Algumas realidades encaixam tão bem que não há como resistir, quer queiramos (mesmo que seja por muito bons motivos!), quer não. Uma vez encontradas, até posso fugir. Até posso fingir. Mas sei que elas lá estão, no escuro, bem no fundo do armário, quietinhas, à espera que eu lá volte- elas não chamam, não provocam, mas eu sei que elas lá estão. É a questão temporal, também: elas fizeram sentido ontem, fazem hoje, e farão amanhã (exactamente do mesmo jeito). Um dia vou cair...e aí vai fazer sentido.

O pior? Sentir-me (quase) predestinada não tira sentido à minha vida. Posso sempre pensar o contrário: vivo para encontrar esse fado. Lutar contra ele talvez até possa ser giro, e sempre dá uma história para contar à mesa (Bolas, já estou tão farta de ouvir à mesa a história do tal casal, ao fim destes anos todos...).

Faz acontecer, que eu faço valer a pena. (Agora, e só depois de escrever isto tudo e de me obrigar a reflectir sobre o assunto, sei porque é que sempre gostei desta frase…)

sábado, 27 de agosto de 2011

Ás dos Flippers

Mais uma vez, não digo por temer sentir. Não que o facto de ter na cabeça sentimentos a funcionar como bolas de Flippers seja muito melhor, mas antes ricochete no crânio que dar explicações. O problema? Ninguém consegue dormir com o constante pingue-pongue-trush-pangue das "bolas-ideia" enquanto são atiradas pelas "barbatanas-mente" para os confins do cérebro (e mais além!). E aparentemente alguém pôs moedas infinitas na máquina (ou então ela encravou), porque as vidas não acabam nem quando acerto com as ideias no buraco. Mas antes as olheiras.
O problema é que a palavra dita não pode voltar atrás: na dúvida, fiquemos calados (PINGUE!). Vá que afinal era engano, percebi mal, interpretei antecipadamente ou o calor do momento se apoderou do meu discernimento? Nunca fiando, ainda para mais é verão, há que manter a calma (PONGUE!).
Preciso de desabafar- ou de andar na montanha-russa, também serve. Preciso de me sentar, olhar nuns olhos-abrigo e enroscar-me na confiança. Bolas, como me custa sentir-me segura...(PAM-PAM-BÓNUS!!!)
Quase posso jurar que os meus olhos já dão luz néon e pontuações. Tenho dúvidas, tenho sensações, tenho medo, e tenho quase mais respostas que perguntas. Vou explodir em três tempos (três bolas fora???). Mas não vou falar- não ainda. Virá a hora.
COLLECT BONUS

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"I wanna know what love is"

Fecho os olhos. Paro: não ouço, não penso, não vejo. A dada altura o mundo à minha volta evaporou, sinto apenas, com cada nervo, por cada poro, respiro pela pele cada sentimento que me invade, inalo luxuria, expiro desejo.
Não aguento mais a vontade de te agarrar, de passar a mão nas tuas costas e te cravar as unhas, de te morder o pescoço. O meu coração não bate- corre. Galopa-me no peito e sinto-o tanto nas pontas dos dedos como na boca. A minha língua anseia a tua, uma vontade que me domina, que me toma, já não controlo o corpo há muito e o pensamento começa agora a fugir-me por entre laivos doces de lascívia e ondas intensas de calor.
Deito-me para trás, no chão assenta apenas a cabeça, parte das costas e o rabo. Sinto-me suar e tremer, tenho a pele arrepiada. A vista turva, o dorso arqueia, quero-te, sim, agora, como te quero...
Vens. Não sei de onde, nem quero saber. Sinto as tuas mãos firmes nas minhas ancas, a tua perna rente à minha, beijas-me e sinto o teu peso no meu ventre. Passo as mãos no teu cabelo, sinto-o deslizar por entre os dedos enquanto me trincas o lábio e o teu cheiro me invade: tenho-te. Forço os joelhos para dentro e colo-te ainda mais a mim, sinto-te os músculos retesados e a respiração ofegante.
O ar torna-se denso e irrespirável, quente. O tempo derrete num relógio que não existe, o sol e a lua fundem-se num misto líquido de luz e calor.
As peles morenas atraem-se como ímans e os corpos mexem em harmonia numa dança sem compasso nem coreografia ensaiada. No entanto nada falha: um belo puro e sem maldade que hipnotiza. Levas-me o medo, a raiva, a dor. Roubas-me pela boca os tormentos e a sanidade- dás-me paz. Digo-te num momento aquilo que numa vida não terei palavras para contar. Explico-te num olhar a vida que nunca tive. Leio no teu sussurro um passado e um futuro e nos meus lábios fica para sempre tatuado o teu sorriso.
Adormeci com o rosto no teu peito.

(Algumas coisas não nasceram para ser explicadas, mas vividas.)


(A quem possa interessar, escrevi este texto com um pé nos Andes -ao ritmo dos Incantation-, e outro no rock, ao cuidado de uma balada de Foreigner...e daí o título. Soube-me lindamente.)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mishmash

Se o fácil e o bom têm de facto algum tipo de relação eu cada vez sei menos acerca de qual será. A esta altura já consigo ver um meio-sorriso da parte de mim que é complicada. Disse complicada? Não -intrincada, confusa, disforme, heterogénea, díspar...- chamar-lhe só complicada é reduzi-la a nada. Depois há a outra metade: aquela que não vê sequer motivo para chamar relação ao que existe entre facilidade e vantagem uma vez que elas são uma e a mesma coisa. Para variar fico eu presa aqui no meio pendendo ora para um lado, ora para outro.
Às vezes acho que penso demais. Certamente, falo demais. Se não tivesse esta tendência para racionalizar tudo, criar pontes, fazer comparações e (mais importante e irritante!) tirar conclusões, tudo seria mais fácil (...melhor?). Agora, se não o fizesse não seria eu, nem veria aquelas pequenas coisas que ninguém mais vê. A minha vida não seria uma novela. Ia-me rir menos sozinha, ser considerada uma pessoa normal, e viver uma vida normal. Fácil. Agora, boa? Duvido...iria faltar-lhe sal (pronto, Rita, lá estás tu, se não "cuscas" então é tudo uma seca...se metes o nariz e ficas atolada em dúvidas até ao pescoço, cansas-te).
E entre racionalizar e sentir, será que também não posso enfiar tudo no mesmo saco? É uma chatice, quer dizer, no fundo racionalizo tudo o que sinto -o que tendencialmente corre mal-, mas quando não o faço tenho uma certa dificuldade em separar as coisas no cérebro. Neste campo, culpo a minha professora primária. Uma excelente senhora que me deixou muitas saudades e lições, sendo delas a mais importante: separa as coisas todas em gavetinhas na cabeça- assim vais saber onde procurar quando quiseres respostas. Ora, eu quero muitas respostas. As minhas cómodas encefálicas é que já estão cheias, e de cada vez que faço limpezas para tirar o que já não serve ou não é preciso acabo tipo as velhas (guarda isso, não deites fora, olha que ainda te vai fazer falta!). Sinto muito. Mas -sinto muito!- não há nada a fazer. Só se tentar não racionalizar o que sentir...mas aí em vez de separar as coisas em gavetinhas vou deixá-las em cima da cama, e quando as quiser usar vão estar sujas e por engomar, isto se as vir (Molly, devia processar-te por isto!).

O que depois desta conversa toda acabo por não contar é o motivo deste mishmash, o que é que me está a deixar confusa. Infelizmente, não o vou poder fazer: isto perderia todo o interesse se me pusesse para aqui a expor problemas pessoais e dúvidas existenciais. Teria piada- mas seria muito embaraçoso. Se alguém no planeta sequer perceber o que quis dizer já me dou por realizada.
(A preparar-me para mais uma batalha interior! Rita de combate!)

O Domador de Bonecas (parte 7)


(Em Setembro de 2009 abandonei um conto sem saber bem como nem porquê. "O Domador de Bonecas" estava a dar comigo em doida, mas hoje resolvi pegar nele. Espero que gostem, e desculpem aqueles que tiverem de voltar a Agosto e Setembro de há dois anos para relembrarem a Marta e o Paulo. Baci)

Estava um frio de morte naquele mês de Fevereiro. As tempestades constantes faziam estragos diversos nas habitações e nas ruas, e as pessoas pareciam deixar-se consumir, de certo modo tão congeladas quanto as janelas e os lagos.
Paulo fugira do centro de reabilitação com a certeza indomável de que tinha um trabalho para fazer. Se desde aquele dia, há dez anos atrás, via em todas as mulheres a mãe (tão bela, perfeita e apelativa quanto uma boneca de porcelana; tão frágil e fria como loiça- pena ser puta), o certo é que também tendera a associar a todos os homens os defeitos do pai. Aquele velho asqueroso e ordinário, tarado de terceira categoria, bêbado nojento...aquele porco que lhe matara a mãe com a desculpa de querer conhecer o filho, e que depois o deixara a apodrecer em orfanatos, deixara que lhe roubassem a infância e os sonhos, que lhe destruíssem a alma. Agora invadia-lhe os pensamentos: apoderava-se dele a ideia de lhe apertar o pescoço com um antebraço até o sentir tossir o último sopro de ar que lhe chegou aos pulmões, e com a outra mão lhe torcer os tomates sem dó nenhum.
Aos 17 anos Paulo não se parecia em nada com um adolescente. Alto não era, mas era entroncado, maciço, de ombros largos e possantes. A expressão fria e taciturna no rosto marcado por cicatrizes velhas e nodoas negras arroxeadas recentes fazia quem o olhasse desejar não o ter feito. Só Deus sabe aquilo por que aquele rapaz cuja boca nunca se abria já havia passado: e, no entanto, não era preciso mais do que um olhar àquele rosto para saber que corpo e alma estavam conspurcados por muito mais do que alguma vez alguma criança deva sequer imaginar, que um adulto ouse falar. Agora, gelado até aos ossos, de tez azulada e com uma nuvem de vapor a sair pela boca, Paulo seguia com firmeza.
O filho-da-puta aparecera no jornal. Aquele cretino tinha ganho a lotaria. Era agora oficialmente um alcoólatra assassino podre de rico. Pois bem, para seu azar a reportagem fizera dele um monte de merda abastado com paradeiro conhecido. Paulo ia caçar o lobo na toca. Paizinho.
Entrar no apartamento foi fácil. Esperar pela chegada do seu velho também. Mas nada do que lhe aconteceu o fez estar preparado para ver a vida desaparecer dos olhos de um ser humano e saber que a responsabilidade é dele. Vomitou e tremeu, os braços em volta dos joelhos, as mãos sujas de sangue, a faca (igualmente imunda) caída a seu lado no chão. Vomitou outra vez, quando se levantou e o olhou. Mas o que tem de ser tem de ser- e tem muita força.
**
A corrente de ar fez bater a pesada porta do quarto. Ensonado, Luís Miguel estendeu a mão para o interruptor do candeeiro...uma da manhã. Mas como poderia a porta ter-se fechado com aquele estrondo? A não ser que...
Levantou-se de um salto e correu para o quarto da filha- vazio. A janela estava aberta, a porta do quarto também, a da rua destrancada: de Marta, nem sinal. Desesperado e com o coração a ameaçar saltar-lhe pela boca, Luís saiu para a rua e gritou a plenos pulmões o nome da filha, até a garganta doer e a voz faltar. Bateu à porta de vizinhos, acordou família e amigos para não encontrar vestígios. Às duas da manhã estava uma pequena comitiva à porta da esquadra mais próxima.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Roda roda vira

Vou ruminando os dias com um misto de felicidade e aborrecimento; é certo que este calor e ausência de roupa contribuem para a minha boa disposição, mas por algum motivo que desconheço o meu âmago quer mais. Esta talvez não tenha sido a minha melhor metáfora- a conotação da vaca associada à nudez dos corpos vai provavelmente suscitar reacções indesejadas-, portanto uma melhor expressão seria “os dias chiclete”. Sim, como na música. Prova, mastiga e deita fora.

Não me interpretem mal, por mim poderia ser verão todo o ano. Fico extremamente feliz por chapinhar com os amigos; aliás, na maior parte dos dias deito-me e levanto-me com a sensação de que tenho tudo o que preciso. Mas naquela pequenina parcela em que acordo com o pé de fora, torço o nariz e formam-se nuvens cá dentro. A minha dúvida refere-se à futilidade desta felicidade. O verão é uma espécie de cadeia de fastfood gigante, elevada a um expoente máximo; eu sou aquela pessoa que depois de uns dias a comer hambúrgueres sente saudades de um peixinho grelhado. A questão é que é tudo tão fácil, de aspecto tão imaculado e sabor delicioso que uma pessoa tende a desconfiar de que algo está errado. Na minha vida há mais feitos heróicos e aventuras incríveis numa semana de Junho que no Inverno inteiro; por algum motivo passo meses frios a ver gente feia e mirradinha, adoentada e com olheiras, e de repente distingo na mesma multidão deuses do Olimpo, actores de cinema e modelos de roupa interior. Mas esta gente está toda fechada a sete chaves em ginásios e spas até Abril? E onde andam as pessoas simpáticas, que dizem bom-dia a conhecidos e estranhos, quando troveja e há gelo nos passeios?

Estou mais uma vez a usar o blogue para vomitar as entranhas- algo que não tem o menor interesse. Deveria mastigar e engolir esta ideia, até porque assim que der um mergulho no mar o meu bom humor volta, saltitante. Enerva-me: nunca consegui distinguir a minha faceta mais forte. O meu lado lunar e solar não se dedicam a aniquilar o inimigo: andam de mãos dadas, brincam juntos e são felizes. Não conheço absolutamente mais ninguém com gostos tão díspares e personalidade tão versátil. “Antigamente era esquizofrénica; agora estamos óptimos!”- é mais ou menos assim a minha vida.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Ponto e vírgula

Hoje, totalmente em desacordo com o boletim meteorológico, está um dia lindo lá fora; vou, contudo, ficar em casa. Preciso de pensar, de ouvir um pouco de música (daquela animada!), de dedicar umas horinhas a ser mulher; afinal de contas, nos últimos tempos tenho ficado em último lugar na minha lista de prioridades. Se te dou atenção e me preocupo sou uma chata; se não te ligo nenhuma já perdi o interesse por ti. Se fico em casa sou uma desocupada, estou a fazer chantagem emocional e não aproveito a vida; se saio com os meus amigos já ultrapassei a dor e estou a seguir em frente depressa demais. Se estou triste ando sempre mal humorada, até incomodo as pessoas; se me rio à gargalhada, canto, danço e salto à corda devo ser maluquinha da cabeça. Já não entendo o teu ponto de vista, já não suporto fazer tudo errado, ser presa por ter cão e por não ter, não dar uma para a caixa; contudo amo-te hoje mais do que nunca e, contra todas as expectativas, não quero mais nem menos do que estar ao teu lado.

Comecei o dia por um longo e relaxante banho de espuma, sem pensar na ecologia nem na crise; hoje vou filtrar essas preocupações agoniantes. Vesti-me, tomei o pequeno-almoço com calma e desliguei o computador e o telemóvel; nada de contacto com o exterior. Liguei a aparelhagem e logo a voz de Sade, doce e penetrante, me elevou a outro nível; ainda assim faltava qualquer coisa. Sequei o cabelo, pintei as unhas, actualizei o meu blogue, almocei...aquele vazio nunca me abandonou, nem por um segundo, foi, aliás, aumentando; no fim, a cabeça já me doía e eu sem saber o que me faltava.

Bateram à porta; estranhei, porque a campainha não tocou, simplesmente alguém estava a dar com os nós dos dedos na madeira da minha porta, no quinto andar. Espreitei pelo óculo, perguntei alto “Quem é?” e baixei o volume da aparelhagem; nada, nem um som. Quando estava a começar a acreditar que algum dos filhos da vizinha devia andar a brincar no corredor e voltei para o sofá, bateram de novo, desta vez com mais força; abri a porta de uma vez e lá estavas tu, em pé, com um enorme ramo de flores a tapar metade do teu rosto. Naquela altura não sei o que me passou pela cabeça, posso apenas calcular o que pensaria alguém que por ali passasse nesse momento; saltei-te para o colo (sem nem te dar tempo de pousar as flores), a rir enquanto as lágrimas, de alegria, me escorriam pelas bochechas. “Amo-te”, disseste, baixinho, enquanto me apertavas contra o peito; foi o momento mais feliz da minha vida. Independentemente do que digam ou pensem de mim, do que revelem as minhas atitudes ou o meu carácter, eu sou louca por ti; é só isso que importa agora.


(trabalho para escrita criativa)

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Palco da vida

A vida dá voltas e voltas e acabamos por voltar sempre àqueles lugares de onde nos esfolamos por sair. Entrei de cabeça baixa mas na primeira inspiração o cheiro de álcool misturado com perfume fez brotar um sorriso no meu rosto. O cheiro a familiaridade, a casa, que sacude a poeira das memórias e acende uma lareira cá dentro.As luzes a meio gás deixaram-me escondida na penumbra, uma silhueta de contornos ténues, espectadora sem bilhete.Acendi um cigarro e encostei-me à ombreira.

-Pst, Devine, apaga esse fogo antes que te ponha na rua...

Sorri. O roçar da barba dele no meu pescoço e a doçura da voz da qual estive privada durante anos derreteram o que restava para me sentir de novo parte daquele lugar.

-E desde quando se cumpre a lei nesta espelunca?

-Muito mudou, minha querida...

Se era verdade, a mim não parecia. O palco estava igual, as mesas eram as mesmas, o balcão continuava sujo e rachado e quase podia jurar que as cortinas ainda tinham aquela mancha que ambos sabíamos porque lá estava.

-O Jorge já não toca saxofone como ninguém?-sorri.

-Está para nascer quem o faça melhor,- sorrindo-me de volta, passou as costas da mão pelo meu rosto- da mesma maneira que ainda não achámos quem cante como tu...

Saí das sombras e fiz sem pressas o percurso que por anos a fio foi a minha rotina. Toquei as cadeiras como que para sentir cada momento esquecido e enquanto subia as escadas do palco ouvi os aplausos, os assobios, todo o clamor.

-Acho que já não seria capaz...

-Tenta. Só estou eu, aqui.Mata saudades.

Peguei no microfone. Desligado. Melhor, assim seria menos audível a loucura que estava prestes a cometer. Despi o casaco e deixei-o caído no chão. Soltei o cabelo. Fechei os olhos e vi a minha vida como uma cassete de vídeo das antigas, a rebobinar. O casamento falhado. O emprego que não me preenchia. A perda dos amigos verdadeiros. Aquela sala, todas as noites em que sem preconceitos nem pudor dei vida à minha alma. Era feliz. Senti o calor do holofote e soube que estava na hora. A voz, meia presa ao início, depressa tomou posse do palco inteiro.

***

A voz dela soava feroz e magnifica, majestosa e fatal, como um felino selvagem no seu habitat. E ele ouvia-a com o prazer de sempre, a luxuria invadindo todo o seu corpo, sabendo que nem o passar dos anos mataria o que sentia por aquela mulher tão distante e fechada. Sentado, olhando para ela, desejou ter vivido doutra maneira, ter tido mais coragem, não ter deixado a felicidade escapar por entre os dedos. Porque teria Devine voltado?

***

O coração batia-me a galope quando finalmente libertei tudo o que acumulei no tempo que estive longe dali. Estava afogueada, com calor, mas sentia-me mais leve. Diogo olhava-me do meio da sala, sentado na cadeira, enternecido. Os seus olhos brilhavam. Apercebi-me das saudades que tinha dele, de como mais ninguém me fazia corar e desviar os olhos, do quanto ficava nervosa quando estávamos sós.

-Não te parti os copos todos?

-Falando neles, aceitas uma bebida?

-Claro. Serves-me?

-Não aqui. Está uma noite linda, vamos aproveitar.

-Mas, e o teu emprego? Duas horas e isto vai estar a abarrotar.

-Há anos que não vejo esta sala cheia,- havia uma verdade dolorosa nos olhos dele enquanto tirava do bolso o telemóvel e o desligava- e de qualquer maneira, eles safam-se sem mim. Hoje nada me vai tirar de perto da mulher que, quando desaparece, leva a minha alma.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Pon and Zi









Sabes quando sentes um m
ilhão de emoções, todas juntas e todas relacionadas com a mesma pessoa, e saltas de uma para a outra com o passar dos segundos sem nem te dares conta? Chamo a isso amar. É medonho, confuso, irritante e dói. E também é o melhor sentimento do mundo, o mais verdadeiro e o que melhor te define.
Amo-te, muito.

(Momento piegas do dia.)

quinta-feira, 31 de março de 2011

Tatuagem

Em pleno fim de tarde de inverno faltar a luz não é só chato; é mortalmente entediante! Mafalda tacteava tudo à sua volta enquanto se tentava orientar. A luz que entrava pelas janelas era quase nula e, sem uma lanterna, dar mais de quatro passos era sinónimo de pontapé na mobília. Descalça, ainda para mais. Sempre que o sistema eléctrico falhava Mafalda prometia a si mesma que deixaria à mão, numa gaveta específica, velas, lanternas e pilhas, para que numa próxima vez estivesse prevenida. Mas assim que a luz voltava e os problemas desapareciam levavam consigo a ideia sensata. Continuava a só ter espalhadas pela casa meia dúzia de velas aromáticas e, de certeza, algures numa gaveta a tão útil lanterna...provavelmente sem pilhas.

Ao fim de três pontapés na mesma mesa Mafalda desistiu. Era inútil! Para que lhe serviria uma lanterna com luz fraca, ainda que a encontrasse? Tentaria fazer o jantar, e depois ficaria às escuras com ele ao lume. Aí sim, a situação piorava. Mais valia ficar quieta à espera que a luz voltasse. Deitou-se no sofá, sem televisão para ver nem aparelhagem para pôr a tocar, e, como que a gozar com ela, o telemóvel apitou por bateria fraca. Deu por si a pensar o quão dependente estava do exterior. Um corte na luz e ela parava, se faltasse a água muito tempo começava a entrar em pânico, esquecia-se do telemóvel em casa e o dia corria mal. Se um dia as coisas ficassem realmente más, como os políticos e os economistas insistiam em dizer, não sabia o que faria. Arrepiou-se, bateu inconscientemente três vezes na perna do sofá (que nem era de madeira) e afastou o pensamento para outro lugar.

Uma tatuagem. Há anos que queria fazer uma tatuagem sem se decidir onde a queria, qual seria nem a que tatuador confiar a sua pele. Pensara numa fada, numa flor, no sol, num golfinho ou numa borboleta...mas por mais que gostasse e se identificasse com os comuns símbolos de vida e beleza não conseguia deixar de sentir que nenhum deles era realmente o tal. E naquele segundo, clara como a água, era como vê-la a pairar à sua frente: ...


(Eu já sei qual é a tatuagem dela. A dela, e as dos outros. Mas não posso revelar mais. Desejem-me sorte para este projecto, e muita força! Eu bem preciso!)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

(...)

Hoje estou triste. Muito triste. Tão em baixo que escrevo como “eu”, em vez de assumir uma qualquer personagem idílica como costumo fazer para me expressar. Não sei, sai-me melhor quando não falo em mim. Evita que me julguem, e assim não tenho tanta vergonha, tanto medo.
Mas hoje não sou capaz. Simplesmente sinto que não tenho força para abdicar de mais nenhuma parte de mim para ser figura de estilo, nem mesmo para me proteger. Hoje quero estar inteira porque estou mal, mas pelo menos sou una.
É mau quando nos humilham. Quando não nos sentimos recompensados pelo que fazemos, a todos os níveis. Quando damos tudo e temos orgulho no resultado final, e depois somos pisados como lixo e olhados de cima.
Por isso lutem. Não deixem que vos passem por cima, que vos humilhem e neguem o que é vosso por direito. Ergam a cabeça e batam o pé. Lutem contra a corrente. Reivindicar direitos não é má educação, é coragem. Falta de ética é pensar ser mais do que os outros.
Tenho muito orgulho na minha cabeça quente.