sexta-feira, 25 de abril de 2008

As minhas 7 maravilhas

(Para que conste, li o post da Ameixa, achei piada à ideia e resolvi dar-lhe continuidade. Boa miúda, parabéns!)

Ficam então as minhas 7 maravilhas:

1. Felicidade. A minha e a dos que me rodeiam. Sentir-me preenchida, sorrir e ver esse gesto retribuído, ter forças e transmiti-las.
2. Todos os que amo. Os meus amigos e família. Tanto aquela meia dúzia de pessoas que eu tenho como absolutamente prioritária como todos os outros que, às vezes sem que eu me dê conta, se preocupam comigo e me ajudam.
3. A entrega completa, corpo e alma, ao que dita o desejo. Viver o momento sem racionalizar, e sentir, simplesmente sentir. Chamem-lhe lascívia, luxúria, loucura, chamem-lhe o que quiserem. É o mais puro sentimento humano, o mais natural e o mais intenso.
4. A praia das Avencas. Eu gosto de praia, mas não há nenhuma como aquela. Costuma dizer-se que todos temos aquele lugar especial. Nas Avencas vivi os melhores e os piores momentos, nas Avencas lavo a consciência e renasço.
5. Água. Seja mar, rio, piscina, jacuzzi, lago, catarata, banheira ou duche.
6. Fruta. Eu adoro fruta. Abacaxi, cerejas, papaia, morangos, mirtilos, melancia, laranja, banana, kiwi, amora, coco, framboesa, ameixas, figos (amo!), pêssego… sem excluir os batidos, os gratinados, as morangoskas…
7. The last but not the least… todo o tipo de arte. Eu deliro com expressão artistica, seja ela literatura, pintura, escultura, arquitectura, música, teatro…

Eu teria, se pudesse continuar, mais algumas maravilhas! O chocolate, a mitologia, as viagens… mas é preciso saber escolher, e estas são, sem dúvida, as sete magníficas!

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Renascer ao sol

(O sol voltou para Ela, e aqueceu-me a mim)

Hoje, pela primeira vez de há muito tempo para cá, tive o prazer de chegar a casa exausta, olhar no espelho e ver a Rita Mendes. Sorri. Sorri, como já não me lembrava de ser capaz.
Os dias arrastaram-se no calendário, um por um. Gemeram de agonia, gritaram de dor. Página por página, arranquei cada gélido mês terminado, após suportar, vá-se saber como, a longa tortura. Nos espelhos que me reflectiam aparecia uma imagem ténue, desfocada: uma miúda pálida, com olheiras, cansada, triste, desmotivada. Havia por vezes um brilho nos olhos, chegou a haver um esgar como que de alegria nos lábios. Mas não. Ilusão de óptica. Cá dentro, e durante todo este tempo, a temperatura foi igual à do exterior. Choveu, fez frio, trovejou. Vieram rajadas de vento arrasadoras, até caiu pedra. Tudo negro, cinzento, mórbido. A memória vinha, sorrateira, mas não chegava, porque consigo não trazia raios de sol, ondas do mar, pessoas de verdade.
Hoje, pela primeira vez, senti-me despertar desta hibernação rígida. Senti os meus membros desentorpecer, um por um. Senti o calor na pele, aquele que é parte dela. Senti o choque perfeito do Indomável Azul no meu corpo. Senti o doce prazer de ver os segundos deslizarem, alegres, sem me cortarem a alma. E, claro, senti a confortante e doce presença dos suspeitos do costume. Aqueles que, como eu, fazem daquele o seu ambiente natural, a sua casa mais genuína, e que só lá se revelam, e que para lá regressam mal o horizonte liberte o sol. Fui feliz de novo.
E cá está a Rita, aquela que só conhece quem a vê no seu ambiente natural, aquela que sorri à própria brisa, que vê o mar com olhos ávidos de curiosidade e fiéis por respeito. A Rita, de pele escurecida pelo sol, que exala harmonia. Agora sim, o brilho no olhar, a verdade no sorriso, a naturalidade nos gestos. Funciono a bateria solar!
Chega de palavras. Chega de congelar emoções, sentimentos. Chega de rotina arrepiante, de vidas por obrigação. Agora, quero prazer. Quero entregar, de braços abertos e consciência lavada, corpo e alma na mão do verão. Quero, uma vez mais, sentir o gosto de ser eu, e viver. Finalmente viver.

À praia das Avencas, que será sempre aquele único lugar capaz de me ceder o sopro da vida. Ao João, sim gajo, por teres estado comigo hoje (me ouvires rir, dizer frases estúpidas sem pensar), e só eu sei de quanto isso valeu. À Xana, porque nem precisei de te convidar, porque és tão mas tão alma gémea que soubeste aparecer (e estar lá para mim, para me ouvir gritar liberdade, exalar essência, subir).

From now on… hey guys, I’m back! Did you miss me? ;)


SUMMER TIME!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Medo


Pára. Pára já e escuta…não os ouves? Não os sentes à tua volta, a controlarem o teu respirar, a manipularem o bater do teu coração na palma das suas mãos suadas? Rompe de uma vez a ordem do quotidiano mecânico e dá vida à humanidade, se ainda a tens!


Fecha os olhos. Já viste? Se tens medo de ser livre, então estás a um passo de ter orgulho em ser escravo. Ou será que já o és? Quando foi a última vez que sentiste na boca o doce paladar de estares a fazer o que realmente desejas?


O medo é uma doença, uma doença grave. Ele apodera-se de ti, de cada um de nós, consome-nos forças, domina-nos movimentos. O medo prende cada um dos traços do nosso carácter. Mais tarde ou mais cedo és um Homem petrificado, mais uma carcaça oca e poeirenta, mas que respira, que vive. O medo é contagioso. Um olhar assustado perturba mais que litros de sangue derramado.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Lobos enjaulados


Dou comigo a sorrir frente a algumas situações.
“Há lobos enjaulados nas máscaras que somos”, pode ler-se na parede na casa de banho feminina do 2º andar da ESCS.
Não faço a menor ideia de quem isto escreveu. Tão pouco sei quando o fez, ou porque razão. Mas não deixa de ser estranho pensar que uma das frases mais sensatas e tocantes que já li esteja rabiscada num sanitário público, local de “entra e sai” de todo o tipo de (teoricamente) miúdas, talvez mulheres. Local, também, de “entra e sai” de outro tipo de substâncias, igualmente comuns mas menos banalizadas. No fim de contas encontro mais conteúdo num cubículo destinado a colher necessidades básicas (e outras mais secundárias mas de menor relevo) do que na grande maioria das restantes salas de estudo desse edifício, e de muitos outros a ele semelhantes.
Seremos todos poetas de casa de banho? Será que só em locais como este, em que a nossa intimidade fica preservada por três paredes, um chão, uma porta e (nem sempre) um tecto, será que só quando nos sentimos a sós connosco somos capazes de revelar essa máscara que já nem temos, mas somos?
E o lobo enjaulado, fica onde? No brilho líquido do olhar cauteloso? Todos sentimos a presença incómoda dessa alcateia acorrentada, quando na multidão estamos. Todos ouvimos o eco do seu uivo na raiva das insinuações proferidas, na avidez das traições consumadas, no medonho eclodir da violência. E será só nas minhas costas que jazem, imponentes, as cicatrizes dos fundos golpes feitos pelas suas garras afiadas?
A verdade é que há lobos enjaulados, sim. Lobos cada vez mais selvagens. Cada vez mais desesperados, mais ansiosos por rebentarem as correntes que os condicionam, cada vez mais animais. E a verdade, também, é que continuamos a ser máscaras. Máscaras camaleão, amorfas. E, se tu que me lês me entendes, sabes que os lobos não aguentarão muito mais esta biosíntese fantoche que as máscaras impõem.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Judas cá dentro


Cega estava a razão quando deu asas ao coração. Cego fica o Homem de cada vez que, de ânimo leve, lhe dá a mão como a um fiel melhor amigo e o deixa guiá-lo para a loucura. Cega estive eu tanto tempo, e só eu sei o esforço que faço para rabiscar meia dúzia de palavras neste fragmento de lucidez que não sei quanto tempo durará, até que a luz volte a apagar, e fantoche me torne de novo.
Um olhar cruzado e lá vai toda a racionalidade construída com esforço. Uma só palavra e desmorona o palácio de cristal formado por todas as premissas, todos os argumentos, todas as verdades. Um toque apenas e rui também a decisão tomada, rui o sentido de responsabilidade e a consciência. De um instante para o outro reina a ilusão e o encantamento, desvanecem prioridades e perdem-se oportunidades.
E flutua-se. Voa-se, divaga-se, sonha-se. Ganha asas corpo e espírito; baila o pensamento, gracioso, por entre memórias de encontros furtivos e desejos de beijos. E cintila a noite, eterna companheira do amor, disposta a ceder estrelas cadentes, luares e sombras…oferece a ilusão, a negra escuridão acolhedora, e em troca consome esperanças, sonhos, inocência, calor.
Até que o olhar se afasta, a palavra morre na boca de quem a profere e o gesto tarda demais. De repente o tempo passa e a solidão toma posse; agora assombra o medo, a dor, a mágoa. Agora, caídos das nuvens, não há anjo que seque a lágrima que escorre do olhar vazio. A treva surge trocista, voraz. Alegria perdida, resta o corpo oco e o tal coração, traidor sem vergonha, que ousa continuar a bater, imune ao seu próprio golpe.
Desta vez a noite vem destapada. Olha-nos e ri-se, altiva, vitoriosa. Lança-nos frio, sombra e escuridão, e pergunta com voz doce “Onde anda essa força protectora agora?”. A vergonha, encolhida, engole em seco. A alma sangra. A memória grita de angústia, a razão acusa-nos, o pensamento chora…e o coração bate.
Mas, sem sabermos bem como, lá arranjamos força para nos levantarmos. O sol nasce timidamente, lança meio que a medo um raio morno para nos aquecer a pele, e a ambição contribui com um impulso arrojado. Os olhos já secaram; a ferida não cicatrizou, mas também já não sangra. Olhando o horizonte engolimos em seco, e atiramo-nos de novo à corrente da vida, puxamos pela razão e ela vem. E, se tentarmos, no silêncio do pensamento ouvimos o coração bater no peito.
E, agora, ainda consciente, repudio-me pela fraqueza. Pela falta de firmeza no que toca ao sentimento. Mas sei que ele cá está, intocável, a bater no seu compasso dançado. E à esquina estás tu, pronto a atormentar-me eternidade fora, num gesto que é nosso…
Eu sei de cor…coração Judas, que me trais com beijos…