segunda-feira, 7 de novembro de 2011

(em)OCEAN

Encostada ao banco do carro, com os pés no tablier e os dedos a tamborilar no volante ao ritmo de qualquer música que passa na rádio, não sei bem se sou eu quem olha o mar ou se é ele que, por entre o rebentar das ondas, me observa.
Nunca me apeteceu tanto um cigarro; para ser sincera, acho que é esta a primeira vez que realmente quero um. Respiro fundo e fecho os olhos. O frio cortante do ar gela-me de fora para dentro, mas, de alguma maneira, ajuda-me a separar os pensamentos.
Detesto a sensação de impotência. Detesto o facto de saber que não durou, mas que nunca mais acaba. E minto com todos os dentes que tenho na boca quando digo o contrário: faço-o, continuarei a fazê-lo e ai de quem me desminta...sendo que, no fundo, me dói na mesma. Mas ninguém tem de saber.
Desligo o rádio quando, ao fim da terceira música que quase posso jurar ter sido escolhida a dedo, me convenço de que o locutor está atrás da sua mesa, com os seus auriculares, a rir-se de mim a bandeiras despregadas. Mágico. Stupid love songs- alguém disse isto; não quero saber quem foi, mas faz muito sentido.
Estou brutalmente constipada- ainda assim o cheiro a maresia atropela-me os sentidos e apodera-se de mim. Vivo este aroma tão intensamente que posso jurar que me movo por ele. Ouço o telemóvel tocar e deixo que quem está do outro lado ouça a minha voz no atendedor de chamadas. Pelo menos aí vou soar animada. Tenho tentado não usar a máscara, mas às vezes sinto que há quem lhe veja os elásticos quando a maquilhagem não basta. E ligo de novo o rádio: antes a música deprimente que não ter banda sonora, de todo.
Será que vou encontrar o meu caminho? Já não sei quando nem onde o deixei. Já perdi a conta a quantas vezes o procurei no lugar errado. E começo a estar certa de que ando a traçar parábolas. Tenho a memória turva e a vontade fraca. Estou magoada com o rosto que me olha do espelho. Estou a perder o brilho, oh se estou…