sábado, 6 de novembro de 2021

Repeat

 

Hoje sei porque escrevo. Hoje sei exactamente o que faço aqui, de caneta na mão, a sentir o toque macio do papel. Sou uma espécie de Hansel, que quando se embrenha floresta adentro vai atirando migalhas ao chão. Eu atiro palavras ao ar. Sinto o cerco a arder, vejo-me sem saídas e tento procurar o caminho, agarrar o fio à meada que há muito está perdida. Agarro-me aos pensamentos que posso ter, tento em vão esconder os que realmente me tiram o sono e escrevo com a raiva de quem luta e a lucidez de quem opera.

Continuo a sentir demais, a pensar demais, a sofrer demais. Continuo com mais medo do desconhecido do que da solidão. Fraca? Não sei. A precaução ainda é a melhor defesa que conheço, logo seguida pelo ataque.

Conheço cada recanto meu, sei de cor cada lugar aqui, e aprendi a gostar de quase todos. Quase. Aninho-me comigo e tento em vão vazar a cabeça...nunca consegui, não vai ser hoje, mas continuo a tentar soltar no papel os monstros cá de dentro, na esperança de que vão e não voltem.

Outra vez, porquê? Como é que não aprendo? Como é que aprendo, mas não consigo evitar? Odeio o que não controlo. O arrepio frio, a presença não solicitada, a invasão do espaço pessoal. Sai. Não quero, não desta vez, não outra vez, não de vez. Porque é que não vês? Ou talvez vejas demais...