“As pessoas não mudam, os sentimentos sim.”- fui pensando na
ideia enquanto distraidamente mordia a palhinha do sumo. Se por um lado me
parece verdade, por outro não posso deixar de ver que, e avaliando por mim, as
pessoas efectivamente mudam. Talvez não aquela essência, aquela forma de ser e
aquele jeito de fazer as coisas (como fechas os olhos quando sorris, passas a
mão pela cabeça quando estás preocupado e a tua boca faz um trejeito quando
estás distraído e a pensar na vida…), mas mudam. Muda a atitude delas para
connosco (e daí…será que essa mesma também não se altera quando se transforma o
sentimento?).
E assim, confusa e perdida em pensamentos, segui a rotina de
havaianas. Prontamente as troquei pelo pé descalço, ora na areia ora na água,
mas a dúvida era a mesma: será que as pessoas mudam mesmo? Crescem, sem dúvida.
Ganham experiência, conhecimento. Algumas pouco ganham e nada evoluem, mas pelo
menos o tempo tem de passar, e afinam-se umas arestas aqui e outras acolá. Dou
graças aos céus por ter a cabeça ocupada com ideias
será-que-apareceu-primeiro-o-ovo-ou-a-galinha, porque hoje estou com um humor
de cão e nada me corre bem. Dou por mim a olhar para ti, como me acontece
sempre que estás por perto –de resto quando não estás penso em ti na mesma- e
calculo o que mudou. Mudou muito, demais. Se calhar mudou tudo- eu, tu e o
mundo. Ou se calhar não mudou nada. És o mesmo, e vejo-o a cada passo que dás.
Sou a mesma, e sinto-o em cada inspiração. E o sentimento…esse, raios parta a
quem lhe deu asas, queria eu que fosse embora. Só cresceu, o filho da mãe, tipo
erva daninha: infiltrou-se na minha vida e invade áreas que não lhe dizem
respeito e já não sei mais o que fazer para o conter.
Se eu pudesse… se devesse, se não tivesse medos e dúvidas…
se não me faltasse a coragem…
Rio-me e sigo em frente. Que se dane. Sou mais forte (e
amanhã é outro dia).
(Corrói a alma o desespero de poder ver quando a distância é
grande demais para o toque e o olfacto. Sinto-me a afogar-me em memórias,
puxam-me as correntes do desejo e não sei o que fazer, toda eu vacilo- o
orgulho prende-me com correntes de ferro mas não consegue apagar da lembrança
nenhum momento perdido.
Sigo em frente e tento ignorar, ando enquanto procuro por
qualquer meio esquecer, mas esbarro a todo o momento com os teus olhos, o teu
nome, a tua presença que se espalha e se entranha e que cada vez mais temo
tanto quanto amo. Quero fugir; quero correr para longe, para não ver mais, não
ouvir mais, para enterrar bem fundo a dor e tapar o sol com uma peneira.
Sou tão fraca. O meu reino por um sentimento. O corpo pela
alma. Tenho tudo, e ainda me sinto oca.)