sábado, 27 de agosto de 2011

Ás dos Flippers

Mais uma vez, não digo por temer sentir. Não que o facto de ter na cabeça sentimentos a funcionar como bolas de Flippers seja muito melhor, mas antes ricochete no crânio que dar explicações. O problema? Ninguém consegue dormir com o constante pingue-pongue-trush-pangue das "bolas-ideia" enquanto são atiradas pelas "barbatanas-mente" para os confins do cérebro (e mais além!). E aparentemente alguém pôs moedas infinitas na máquina (ou então ela encravou), porque as vidas não acabam nem quando acerto com as ideias no buraco. Mas antes as olheiras.
O problema é que a palavra dita não pode voltar atrás: na dúvida, fiquemos calados (PINGUE!). Vá que afinal era engano, percebi mal, interpretei antecipadamente ou o calor do momento se apoderou do meu discernimento? Nunca fiando, ainda para mais é verão, há que manter a calma (PONGUE!).
Preciso de desabafar- ou de andar na montanha-russa, também serve. Preciso de me sentar, olhar nuns olhos-abrigo e enroscar-me na confiança. Bolas, como me custa sentir-me segura...(PAM-PAM-BÓNUS!!!)
Quase posso jurar que os meus olhos já dão luz néon e pontuações. Tenho dúvidas, tenho sensações, tenho medo, e tenho quase mais respostas que perguntas. Vou explodir em três tempos (três bolas fora???). Mas não vou falar- não ainda. Virá a hora.
COLLECT BONUS

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

"I wanna know what love is"

Fecho os olhos. Paro: não ouço, não penso, não vejo. A dada altura o mundo à minha volta evaporou, sinto apenas, com cada nervo, por cada poro, respiro pela pele cada sentimento que me invade, inalo luxuria, expiro desejo.
Não aguento mais a vontade de te agarrar, de passar a mão nas tuas costas e te cravar as unhas, de te morder o pescoço. O meu coração não bate- corre. Galopa-me no peito e sinto-o tanto nas pontas dos dedos como na boca. A minha língua anseia a tua, uma vontade que me domina, que me toma, já não controlo o corpo há muito e o pensamento começa agora a fugir-me por entre laivos doces de lascívia e ondas intensas de calor.
Deito-me para trás, no chão assenta apenas a cabeça, parte das costas e o rabo. Sinto-me suar e tremer, tenho a pele arrepiada. A vista turva, o dorso arqueia, quero-te, sim, agora, como te quero...
Vens. Não sei de onde, nem quero saber. Sinto as tuas mãos firmes nas minhas ancas, a tua perna rente à minha, beijas-me e sinto o teu peso no meu ventre. Passo as mãos no teu cabelo, sinto-o deslizar por entre os dedos enquanto me trincas o lábio e o teu cheiro me invade: tenho-te. Forço os joelhos para dentro e colo-te ainda mais a mim, sinto-te os músculos retesados e a respiração ofegante.
O ar torna-se denso e irrespirável, quente. O tempo derrete num relógio que não existe, o sol e a lua fundem-se num misto líquido de luz e calor.
As peles morenas atraem-se como ímans e os corpos mexem em harmonia numa dança sem compasso nem coreografia ensaiada. No entanto nada falha: um belo puro e sem maldade que hipnotiza. Levas-me o medo, a raiva, a dor. Roubas-me pela boca os tormentos e a sanidade- dás-me paz. Digo-te num momento aquilo que numa vida não terei palavras para contar. Explico-te num olhar a vida que nunca tive. Leio no teu sussurro um passado e um futuro e nos meus lábios fica para sempre tatuado o teu sorriso.
Adormeci com o rosto no teu peito.

(Algumas coisas não nasceram para ser explicadas, mas vividas.)


(A quem possa interessar, escrevi este texto com um pé nos Andes -ao ritmo dos Incantation-, e outro no rock, ao cuidado de uma balada de Foreigner...e daí o título. Soube-me lindamente.)

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Mishmash

Se o fácil e o bom têm de facto algum tipo de relação eu cada vez sei menos acerca de qual será. A esta altura já consigo ver um meio-sorriso da parte de mim que é complicada. Disse complicada? Não -intrincada, confusa, disforme, heterogénea, díspar...- chamar-lhe só complicada é reduzi-la a nada. Depois há a outra metade: aquela que não vê sequer motivo para chamar relação ao que existe entre facilidade e vantagem uma vez que elas são uma e a mesma coisa. Para variar fico eu presa aqui no meio pendendo ora para um lado, ora para outro.
Às vezes acho que penso demais. Certamente, falo demais. Se não tivesse esta tendência para racionalizar tudo, criar pontes, fazer comparações e (mais importante e irritante!) tirar conclusões, tudo seria mais fácil (...melhor?). Agora, se não o fizesse não seria eu, nem veria aquelas pequenas coisas que ninguém mais vê. A minha vida não seria uma novela. Ia-me rir menos sozinha, ser considerada uma pessoa normal, e viver uma vida normal. Fácil. Agora, boa? Duvido...iria faltar-lhe sal (pronto, Rita, lá estás tu, se não "cuscas" então é tudo uma seca...se metes o nariz e ficas atolada em dúvidas até ao pescoço, cansas-te).
E entre racionalizar e sentir, será que também não posso enfiar tudo no mesmo saco? É uma chatice, quer dizer, no fundo racionalizo tudo o que sinto -o que tendencialmente corre mal-, mas quando não o faço tenho uma certa dificuldade em separar as coisas no cérebro. Neste campo, culpo a minha professora primária. Uma excelente senhora que me deixou muitas saudades e lições, sendo delas a mais importante: separa as coisas todas em gavetinhas na cabeça- assim vais saber onde procurar quando quiseres respostas. Ora, eu quero muitas respostas. As minhas cómodas encefálicas é que já estão cheias, e de cada vez que faço limpezas para tirar o que já não serve ou não é preciso acabo tipo as velhas (guarda isso, não deites fora, olha que ainda te vai fazer falta!). Sinto muito. Mas -sinto muito!- não há nada a fazer. Só se tentar não racionalizar o que sentir...mas aí em vez de separar as coisas em gavetinhas vou deixá-las em cima da cama, e quando as quiser usar vão estar sujas e por engomar, isto se as vir (Molly, devia processar-te por isto!).

O que depois desta conversa toda acabo por não contar é o motivo deste mishmash, o que é que me está a deixar confusa. Infelizmente, não o vou poder fazer: isto perderia todo o interesse se me pusesse para aqui a expor problemas pessoais e dúvidas existenciais. Teria piada- mas seria muito embaraçoso. Se alguém no planeta sequer perceber o que quis dizer já me dou por realizada.
(A preparar-me para mais uma batalha interior! Rita de combate!)

O Domador de Bonecas (parte 7)


(Em Setembro de 2009 abandonei um conto sem saber bem como nem porquê. "O Domador de Bonecas" estava a dar comigo em doida, mas hoje resolvi pegar nele. Espero que gostem, e desculpem aqueles que tiverem de voltar a Agosto e Setembro de há dois anos para relembrarem a Marta e o Paulo. Baci)

Estava um frio de morte naquele mês de Fevereiro. As tempestades constantes faziam estragos diversos nas habitações e nas ruas, e as pessoas pareciam deixar-se consumir, de certo modo tão congeladas quanto as janelas e os lagos.
Paulo fugira do centro de reabilitação com a certeza indomável de que tinha um trabalho para fazer. Se desde aquele dia, há dez anos atrás, via em todas as mulheres a mãe (tão bela, perfeita e apelativa quanto uma boneca de porcelana; tão frágil e fria como loiça- pena ser puta), o certo é que também tendera a associar a todos os homens os defeitos do pai. Aquele velho asqueroso e ordinário, tarado de terceira categoria, bêbado nojento...aquele porco que lhe matara a mãe com a desculpa de querer conhecer o filho, e que depois o deixara a apodrecer em orfanatos, deixara que lhe roubassem a infância e os sonhos, que lhe destruíssem a alma. Agora invadia-lhe os pensamentos: apoderava-se dele a ideia de lhe apertar o pescoço com um antebraço até o sentir tossir o último sopro de ar que lhe chegou aos pulmões, e com a outra mão lhe torcer os tomates sem dó nenhum.
Aos 17 anos Paulo não se parecia em nada com um adolescente. Alto não era, mas era entroncado, maciço, de ombros largos e possantes. A expressão fria e taciturna no rosto marcado por cicatrizes velhas e nodoas negras arroxeadas recentes fazia quem o olhasse desejar não o ter feito. Só Deus sabe aquilo por que aquele rapaz cuja boca nunca se abria já havia passado: e, no entanto, não era preciso mais do que um olhar àquele rosto para saber que corpo e alma estavam conspurcados por muito mais do que alguma vez alguma criança deva sequer imaginar, que um adulto ouse falar. Agora, gelado até aos ossos, de tez azulada e com uma nuvem de vapor a sair pela boca, Paulo seguia com firmeza.
O filho-da-puta aparecera no jornal. Aquele cretino tinha ganho a lotaria. Era agora oficialmente um alcoólatra assassino podre de rico. Pois bem, para seu azar a reportagem fizera dele um monte de merda abastado com paradeiro conhecido. Paulo ia caçar o lobo na toca. Paizinho.
Entrar no apartamento foi fácil. Esperar pela chegada do seu velho também. Mas nada do que lhe aconteceu o fez estar preparado para ver a vida desaparecer dos olhos de um ser humano e saber que a responsabilidade é dele. Vomitou e tremeu, os braços em volta dos joelhos, as mãos sujas de sangue, a faca (igualmente imunda) caída a seu lado no chão. Vomitou outra vez, quando se levantou e o olhou. Mas o que tem de ser tem de ser- e tem muita força.
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A corrente de ar fez bater a pesada porta do quarto. Ensonado, Luís Miguel estendeu a mão para o interruptor do candeeiro...uma da manhã. Mas como poderia a porta ter-se fechado com aquele estrondo? A não ser que...
Levantou-se de um salto e correu para o quarto da filha- vazio. A janela estava aberta, a porta do quarto também, a da rua destrancada: de Marta, nem sinal. Desesperado e com o coração a ameaçar saltar-lhe pela boca, Luís saiu para a rua e gritou a plenos pulmões o nome da filha, até a garganta doer e a voz faltar. Bateu à porta de vizinhos, acordou família e amigos para não encontrar vestígios. Às duas da manhã estava uma pequena comitiva à porta da esquadra mais próxima.