segunda-feira, 26 de abril de 2010

Voz


"Luz."
Olho-me ao espelho. Vejo a imagem distante, difusa, olho o rosto que é meu embora nem sempre pareça.
"Luz, câmara."
Acendem-se holofotes. Estende-se o mundo na sua ensaiada harmonia, desfilam os rostos e os corpos como manequins. Um brilho, aqui, um pó acolá. Escuridão e sujidade nas zonas mortas, aquelas que ninguém vê, em que ninguém passa. O meu rosto em primeiro plano, a humanidade em cenas, rolando nas minhas costas.
"Luz, câmara, acção."
Agora o espelho desapareceu. As vozes sobem e descem, passos, silêncio, cores, vazio. Agora já não vejo os holofotes, nem o palco. Não distingo as cenas. O peito vai subindo e descendo conforme respiro (porquê?). Sigo. Tenho de seguir.


(take 2: Esconde as lágrimas. Funga. Foge. Foste descoberta. Encobre. Ama. Deixa-te levar. Fala. Chora. Tem fé. Tem muita fé.)

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Espiraltematicamente

Acontece que eu sou a pessoa mais solitária do mundo. A mais fria. A mais profunda e intrincada teia de ilusões e mentiras vividas a cada dia passado, esventrado, eclipsado. Acontece que eu quero mais. Que me sinto mal. Que sinto falta de cada detalhe esquecido e de cada realidade apagada, que esmorece em mim toda a alegria tão efémera, dolorosa, vazia.
Vai, corre, sua, voa.
Estou cansada, triste. Estou gelada por dentro. Será ferrugem? Sinto o coração perro. A cabeça, a alma. As mãos rasgam-me o peito de dentro para fora, não rujo nem gemo, aninho-me, calo-me, morro. Não sei se te quero. Tenho a certeza de que preciso de ti. Não sei se me suporto mais. Não posso viver noutro corpo.
Chuto. Choro. Caio. Sangro. Páro.
Ir-se-á o sol erguer de novo? Um dia? Talvez para mim…será pedir demais?
Não venhas. Sai. Deixa-me. Ama-me. Fica. Beija-me. Não me largues nunca mais…





(Não espero que ninguém entenda este desabafo. Peço desculpa pela confusão.)