quinta-feira, 20 de maio de 2010

Palavras


Já alguma vez sentiste que pronunciar alguma coisa a poderia tornar realidade? Já temeste que referir uma angústia, um medo, uma impressão, lhe pudesse dar vida, forma, cor?
Eu já. Quantas vezes não falo com medo de que os monstros que moram na minha alma me saiam pela boca, e assumam o seu lugar no mundo. Quantas vezes roo as unhas enquanto penso se digo ou não, sempre com a certeza de que sou incapaz de libertar o que me vai na alma, não vá isso acontecer.
Acredito nessa magia das palavras, branca ou negra. Quantos sentimentos não nasceram de dúvidas pronunciadas sem querer, quantas ideias não se tornaram invenções quando alguém lhes deu a força de ter um nome...
E a morte que se abate lentamente sobre alguém que te é querido, enfrenta-la? Quando as certezas que sempre te rodearam parecem estar à beira de ruir, exprimes o que te vai na alma? Não. Há palavras que são facas.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Quem de nós dois


Giro num turbilhão de problemas, dúvidas e medos, fecho os olhos e levanto a cabeça para o céu. Troveja. Preciso de uma saída.


Lembro-me do teu olhar do mais profundo azul, dessa força que me prende e me suga, do brilho meigo e do jeito doce. Tudo o resto se dissolve e ficas tu comigo, despido de amarras, de preceitos, normas e receios, dessas correntes que levam o sorriso dos meus lábios, dessas leis que matam a cor da vida. Agora estou perdida nesse beijo que me envolve e arrepia, estremeço nos teus braços e as tuas mãos seguram as minhas costas, o meu rosto, o meu pescoço. O calor da tua pele é o mesmo do meu peito, e ainda assim sinto suores frios e preciso de mais. Num momento o passado funde-se com o futuro e o tempo é só um, como que sempre tivesse sido aquele e nunca pudesse ser outro. Agora não consigo separar o meu corpo da minha mente, agora nenhum dos dois me obedece, não penso, não vejo, não ouço, não paro. Agarro-te com força e puxo-te para mim, passo a mão no teu peito e na tua barriga, cravo as unhas nas tuas costas e passo os dedos no teu cabelo. Danço ao teu ritmo, rendida a muito mais que sentimentos, embalada pelo teu cheiro. Amo-te com mais intensidade que razão. E acabo por adormecer nos teus braços, tranquila, sem saber que horas são nem o que tenho para fazer.


“Faço das lembranças um lugar seguro. Não é que eu queira reviver nenhum passado, nem revirar um sentimento revirado, mas toda vez que eu procuro uma saída acabo entrando sem querer na tua vida…”