sexta-feira, 26 de setembro de 2008

O (ciculo perfeito, determinante definido)


O extraordinário surge quando a respiração quebra. Quando a metamorfose do mínimo faz de cinzas gigantes, quando dramas esfumam frente a sorrisos, quando um momento conta para a vida, quando o sentimento fala através das mãos.
Especial é a imagem do vivido que sem licença fica gravada na memória, é a chama do olhar que a chuva não conseguirá nunca apagar. Especial é ter certezas num sentido e ainda assim deixar o impulso guiar para o outro, e, no fim, sentir o peito romper de orgulho e felicidade.
Único é aquilo que salta à vista num mar de clones, é aquele que faz com que o coração salte pela boca, é o reconhecível de olhos fechados e pulsos acorrentados, é um cheiro inconfundível.

(Depois de ti, os outros serão reticências.)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Quis escrever

Quis escrever, hoje, por fim, por serem já demais as memórias que colecciono desde que o fado nos cruzou os destinos ao unir os nossos lábios. Já não aguento, a alma que julguei ilimitada em expansão acusa a cada segundo uma sobrecarga perigosa de sentimentos, emoções, pensamentos, sensações.
Quis esconder, até agora, a intimidade por onde pude, por julgá-la excessivamente pura, bela, frágil. Fui guardando em segredo, á parte de palavras rebeldes que espontaneamente brotavam de minha boca, o efeito da tua presença no meu mundo. E, com cuidado e perícia, montei em pensamento um arquivo de nós dois, que dia após dia aumenta. Era tão mais fácil expô-lo da forma que melhor sei. Mas não. Afinal, que direito têm os outros de conhecer este jardim proibido, porquê dar forma ao transcendente de modo a torná-lo mais acessível e facilmente interpretável se, para nós, o importante é claro?
Ainda assim, hoje mudei de opinião. A fragilidade, existindo, não é mais que falta de força minha e, de resto, cada recordação é um motivo de orgulho.
Faltam-me as palavras. Desta vez não é meu o defeito, talvez não chegue mesmo a ser erro humano. Quis o destino que o sentimento fosse demasiado grandioso para ficar encerrado entre letras e sinais ortográficos. Perderiam as asas, o toque único, a beleza. As palavras que ainda não foram inventas, quem as tem o privilégio de sentir jamais ousará atribuir-lhes um nome.
Para nós, há aquela palavra que corre o mundo e move as massas, aquela que ninguém entende, define, compreende na totalidade. O verbo que circula na boca de te todos, sem excepção, sem por isso ficar banalizado. A teia intrincada de tudo e mais alguma coisa, do possível e impossível, a retrospectiva pessoal e colectiva actualizada ao segundo, o leme da humanidade: amar.
Amar é um círculo: entrando nele são muitas as voltas, infinitos os pontos possíveis de percorrer e indescritíveis (senão mesmo inatingíveis) os extremos…a única certeza é a de que, tal como não houve princípio, também não haverá fim.
Pensei, anteriormente, já me conhecer. Hoje sei que me descubro a cada dia, que o sentimento que nos une me reinventa e que na tua presença me renovo por dentro, lavagem instantânea de impurezas fúteis.
Quando os meus olhos te encontram, ma, céu e terra perdem grandiosidade face ao esplendor que o brilho que o meu olhar alberga. És-me tão precioso, tão íntimo, tão especial e incomparável que despertas, propositadamente ou não, o melhor e o pior de mim, com a naturalidade de quem respira.
Julguei, há tempos, que a felicidade e a plenitude estivessem numa vida composta por bons momentos. Hoje sei que a utopia não é a felicidade, mas a definição que lhe atribuí. Ser feliz é saber ultrapassar os obstáculos e deles retirar sabedoria, é ter prazer nas pequenas coisas e viver a vida de coração e alma aberta, um dia de cada vez.
Aceito-nos como somos, como estamos. Confio em ti como em mim, dou-te a minha mão e dar-te-ia a vida ciente de que não correria perigo. O tempo fará por nós o que só ele pode fazer e, nesta noite como em tantas outras já passadas ou ainda por vir, adormeço embalada na beleza do teu sorriso, alma inundada de luz, e, plena, grito ao mundo que te amo.