quarta-feira, 28 de setembro de 2011

'Tá quietinho (Um Deus de trazer por casa)

Faz o que te mandam. Segue as regras. Passa na passadeira, não fales a estranhos, come a sopa. Olha os teus pais. Não digas isso. Entra a horas, baixa a cabeça, olha que está mau. Deus castiga. Ajeita a camisa, penteia-te. FAZ O QUE TE MANDAM.

Não- um tremendo, redondo e absoluto não. Não sou menina de calar a boca, não tenho jeito para hipocrisias e perdi a capacidade de ser cínica (que às vezes até dava jeito, mas enfim, foi-se!). E não sou uma marioneta nas mãos seja de quem for: jamais. Há algo muito puro e forte cá dentro: vontade. Mas é preciso encontrá-la, lutar por ela e quebrar as correntes que a rodeiam.

(Para ser sincera, também ainda preciso de derrubar meia dúzia de muros para lá chegar. Estou demasiado acomodada à rotina, tenho medo que a liberdade me leve o chão e me faça espalhar ao comprido. Estou presa a esta zona de conforto que não me faz feliz nem me abre horizontes, mas deixo-me cá estar porque tenho o meu pequeno buraco. Mas eu não quero um buraco- eu quero muito mais. (Já cheguei à beira do precipício…vá lá, Rita, é só dar o passo em frente!))

Não sou a Bela- sou o Monstro. O bicho no armário, o papão debaixo da cama. O olhar trocista. O esgar de desprezo. Eu piso a relva. Durmo nua. Eu provoco. Faço questão de meter o dedo na ferida…de escarafunchar lá dentro, assim é que é. E então? Uma parede bem segura não cai: testar os alicerces é a melhor forma de ver se a casa aguenta tempestades. O problema- andamos todos a construir na areia. Estamos todos de trela, uma peça agarra na outra, não posso dar um passo em frente porque senão como será o amanhã…’tá quietinho, ou lebas no focinho!

Pelo menos eu corro. Ando à chuva. Meto os pés pelas mãos, espalho-me, choro…vivo à minha maneira. Tenho dúvidas e soluções. Geralmente sobram-me as soluções quando escasseiam os problemas...e quando tenho dúvidas, só sobram mesmo outros problemas. Mas eu posso dizer que me rio com alma, que fiz as minhas escolhas e que traço o meu rumo. Que estou com quem quero porque quero e quando quero, que amo uma vez de cada vez (quando é sincero, até amar de novo, sem obrigações nem porquês). E sei quem é que devo culpar quando estou na fossa: a quantidade de vezes que já fui o mais profundamente ordinária comigo mesma.

Agora… se queres ser mais um, força; se queres ser um a mais, por mim tudo bem. Eu prefiro ser procurada toda a minha vida por fugir a ser outra nas fileiras. A mim, deixai-me cair em tentação. Não me livreis do mal: ajudai-me a distingui-lo. Dai-me pêlos na venta, salvo seja.

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