sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Quando a hora não é hora

Um dia de cada vez- repito para mim mesma, enquanto vejo pela janela o tempo mudar. O sol está mais baixo e mais fraco, incomoda os olhos e traz a nostalgia do outono. Na televisão passa um qualquer filme de terror daqueles com adolescentes e muitos gritos; curiosamente, “Cuidado com o que desejas” é a frase cliché que nunca me soou bem…hoje é quase melódica.

Tento conformar-me, não me deixar consumir pela culpa (o que, dependendo do prisma de pensamento, pode ser uma luta atroz ou tão natural quanto respirar). Mas, quer eu queira, quer não, a pedra está no sapato e não tenho como tirá-la. Não é propriamente doer, nem impedimento para andar…mas mói, incomoda, chateia.

Será que mudava alguma coisa, se pudesse? Fecho os olhos, respiro fundo, relembro. Bolas, não; não mudava ponta de um corno. Nada que pareça tão certo e natural pode ser assim tão condenável- errado sim, mas e daí? (Daí que agora te sintas a afundar com pés e mãos acorrentados, burra…) Tenho vontade de amachucar a consciência como folha de papel e atirá-la para o balde, para junto dos rascunhos sem valor. Não é uma questão de culpa…é força centrífuga, não há como evitar. Mas então porque me pesa tanto o ego? E ainda assim não mudava. Hei-de arder no inferno, mas olha, pelo menos vivi à minha maneira (e vou lá ter conhecidos, oh se vou!).

Entretanto o sol já foi: o espelho devolve-me a imagem duma Rita alaranjada, com o cabelo desalinhado e um semblante pensativo. Já desliguei a televisão, agora as colunas tocam baixinho (Foreigner, um grande som, Urgent. Já batia ao Lou Gramm por me estar aqui a encher os ouvidos com uma emergência que também me atormenta). Aconchego-me em mim, escalda-me a pele e a alma- nenhuma das sensações é inteiramente desagradável e, no entanto, alguma delas me está a arrepiar a nuca.

Sinto demais, e tenho uma tendência impressionante para o desafio (a pedra que mexe, o carro sem travões, o precipício!). Condenem-me. Um dia tudo vai bater certo. Hoje só não é o dia.

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