sábado, 17 de setembro de 2011

Sete Pecados


São originalmente sete, mundialmente famosos e base para filmes, livros, músicas e variadíssimas discussões. Na minha opinião, os pecados capitais -mortais, para dar um ar mais terrível- estão desactualizados. Obsoletos. Ultrapassados.

Luxúria, gula, inveja, ganância, ira, preguiça, vaidade: vejamos o caso ao pormenor.
Luxúria. Este custa-me solenemente: para ser sincera, acho que é daquelas coisas que dá felicidade, não prejudica ninguém nem corrompe. É vital e necessário? Não, nem perto- mas sabe bem. Moralmente, pelo menos no meu ponto de vista, não fere. Preservo os meus valores imaculados se tiver relações sexuais por prazer ou se passar o dia numa banheira de espuma…e, como se não bastasse, ambas as situações me melhoram o humor e (em consequência) a relação com o próximo. É preciso é boa disposição. Não está de acordo com os valores religiosos- temos pena. Se calhar o problema é essa mesma pirâmide de valores, há pecados bem maiores. O divórcio também não está e se for em prol da felicidade e do bem-estar geral faz todo o sentido, e é a opção correcta. Se não pesar na consciência, luxúria é das coisas mais docemente prazerosas que conheço. O mesmo se aplica às variantes sensualidade e lascívia. Um valente: “CULPADA”.
Gula. Pronto: não é bonito, saudável, útil, necessário nem (a um nível exagerado) prazeroso- é um vício redondo. Mas daí a estar no top7…não será exagero? Querer e consumir mais do que o necessário é uma tendência natural do Homem, justificada cientificamente. A sobrevivência da espécie passou por acumular para não passar necessidade, consumir acima do necessário (quando há disponibilidade) porque mais tarde poderá escassear. É uma espécie de herança comportamental, que faz sentido. Eu percebo os gulosos…vai ,não vai, junto-me ao grupo. Principalmente se incluirmos um geladinho ou um cesto cheio de nachos com queijo e guacamole no pacote.

Inveja. Bem, este já tem a balança mais equilibrada: pelo menos não é bonito. Vivemos num mundo em crise constante – quer financeira, quer de valores- onde as oportunidades são escassas e o que não falta é concorrência (por vezes) desleal. Cobiçar o alheio é mais natural do que pecaminoso, por princípio. E é dessa inveja que nasce a vontade, (quiçá) a motivação, para lutar por mais e melhor. Se lhe chamar “seguir o bom exemplo alheio”, no fundo, é a mesma coisa; mas é praticamente de louvar e não está errado. “Eu, cobiçar aquela vivenda com piscina, barbecue e campo de ténis? Não! Estou só a dizer que o modelo de vida daquele senhor empresário no bruto fato Armani que a comprou é nobre, vou fazer tal e qual.” –e, sinceramente, qual é o problema? Não que esteja correcto e seja bonito, mas daí a ser condenável vai um bocadinho. Devo ser feliz com o que tenho…mas se desejar mais ninguém leva a mal. Olhar para a galinha da vizinha não tem pecado nenhum, mas pelo menos que dê também valor à minha. De qualquer modo, este é um a evitar.

Ganância, ou avareza (segundo a Igreja Católica são uma e a mesma coisa). Ah. Este já é outro patamar, que faz na minha cabecinha muito mais sentido. É sem dúvida o pecado que considero condenável. Invejar é uma coisa que, controladamente, pode até ser saudável: a ganância é uma idolatria excessiva e descontrolada pelo material que passa por cima de tudo e todos. É um hino ao dinheiro que destrói a humanidade de cada um, e que leva ao isolamento. Uma espécie de auto-estrada sem fim nem saídas. Não gosto nada.

Ira. Não passamos todos por lá? É um impulso pouco correcto, mas não há como contê-lo vivendo no século XXI. Há más acções, más pessoas, acasos azarentos, abismos. Há buracos muito grandes- não faltam provocações que plantem a semente da raiva algures cá dentro. E ela ou é descarregada…ou cresce. Ódio, rancor, vingança. Bem, se evoluir até aqui, então sim, também condeno. Mas, nestes escassos anos de vida, já estive uma mão cheia de vezes (pelo menos) furiosa. Já perdi a cabeça, disse e fiz mais do que devia. Já, certamente, ultrapassei os limites do razoável e invadi o domínio do “outro”. E não me considero assim tão má pessoa.

Preguiça. Haja dó. Noventa por cento das pessoas que conheço são preguiçosas, algumas mesmo ao extremo. E a grande maioria delas não merece condenação por isso. Mais uma vez, as circunstâncias em que vivemos são propícias a um estado de cansaço e moleza que nos atira para o sofá. E momentos de ócio são necessários. Existindo uma conciliação entre trabalho e inactividade que permita à pessoa ter um nível de vida que a satisfaça sem incomodar ninguém…então que molengue à vontade no tempo livre. Havendo esmero e empenho quando é necessário, há tempo para tudo. Até para ficar esparramado na cama um dia inteiro.

Vaidade. ADMITO- precisava de começar por aqui! Também chamada de soberba (que será provavelmente um termo mais correcto, eu é que sou menos simpatizante). Não precisa de ser uma questão tangente à arrogância e ao orgulho, na minha opinião. Uma pessoa deve-se esmerar nos actos, nos sonhos, no pensamento…porque não na imagem? Qual é o pecado de querer parecer o melhor possível? É por estar ligada à luxúria? É juntar o útil ao agradável…e torná-lo quase divino (cheira-me que o problema é esse). Eu acho muito bem: se eu não gostar de mim, quem gostará?

Fazendo uma avaliação- vou arder no inferno! Tirando a ganância e a ira (do qual sofro pouco), confesso que estes pecados são quase traços de personalidade. Bastante gerais, por sinal.

E então quais serão os crimes e instintos humanos merecedores de condenação? As paixões a conter? Destes, manteria a ganância. Mas não faz muito mais sentido a pedofilia? A violência? O abuso dos recursos naturais? Roubar? Violar os direitos humanos, no geral, é muito pior que ser vaidoso, preguiçoso e guloso (juntos). Digo eu. Mas façam o favor de me dar a vossa opinião.

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