O tempo passa e vamos deixando os novos hábitos tomarem conta
dos velhos. Não que eles morram, não, de todo, deixam-se simplesmente lá ficar,
adormecidos, à espera de que se lhes seja sentida a falta. É o caso.
Quase tudo tem substituição, não vale a pena deixarmo-nos
levar por ideias românticas. Estamos programados para ser dessa forma. E se não
há o que procuramos…então algo certamente tomará o seu lugar, melhor ou pior.
Deixei de escrever durante muito tempo. Tempo demais. Entretanto fui vivendo.
Fiz outras coisas. Houve alturas em que me senti tentada, mas segui em frente.
E agora cá estou, de novo a braços com uma das coisas que me faz sentir mais
una comigo mesma. Se é para ficar, não sei. Sei que estou bem, aqui e agora. E
é isso que importa.
Falando de mim…estou igual. E, ao mesmo tempo, sou outra
pessoa. Continuo frágil, cansada e carente, na mesma debaixo de um manto de
força e confiança que me vai permitindo seguir em frente. Deixei de acreditar
em contos de fadas, e cedi mais à realidade. Sinto-me mais triste, mais sozinha
e mais vazia. Mas, por outro lado, sofro menos ao esperar menos da vida, e
essencialmente das pessoas. Deixei de lutar batalhas que estão, à partida,
perdidas. Também deixei de lutar outras, que até têm a hipótese de ser vitoriosas,
mas não são minhas. É estranho pensar que luto menos, mas estou mais cansada.
Talvez porque não tenha pelo que viver. Mas, agora, tanto me faz.
Perdi grande parte daqueles que me são queridos. A distância
e o tempo são capazes de coisas que julgamos impossíveis. E sinto-lhes a falta,
se sinto. Mas já pouco choro. Não adianta, se não os traz de volta e ainda me
deixa com dores de cabeça. Aprendi a valorizar o pouco que tenho. A calar a
boca, quando tem de ser, e Deus sabe como me é difícil. Agora sei distinguir o
que quero do que preciso. E vi que, afinal, preciso de muito pouco. E com isto
deixei de querer como dantes. E de crer, também.
Fiz escolhas. Provavelmente não foram as escolhas certas. Sei
que muitas delas vou ter de retificar, e que vou pagar pelos erros que cometi.
Fi-las em consciência, a par do que me pareceu mais certo e mais seguro. Talvez
tenha sido essa a falha. Talvez a forma certa de escolher seja mais com o
coração que com a cabeça. Talvez devesse ter dado asas à certa dose de loucura
que tenho, que temos todos. Não estou feliz com as minhas escolhas. Mas
assumo-as, e tomo total responsabilidade pelos danos por elas causados. Até
porque, em boa verdade, só eu sofro consequências.
Portanto agora eu sou mais eu, e gosto menos de mim. Tenho
saudades da louca sonhadora que um dia achou que podia mudar o mundo, e ser
feliz. Ou pelo menos, mudar o seu mundo. A dura verdade é que o mundo nos muda
a nós. Mas pode ser que de facto não hajam verdades absolutas, nem perfeitas
mentiras. “Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce.”. No dia em que o meu Deus
voltar a querer, talvez eu volte a sonhar.
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