quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Megalomania



Acordei com o fulgor epiléptico de quem pula em vez de andar. Toda eu era alegria e vontade de viver, cada lufada de ar inalado gritava a sua força nos meus pulmões, cada batida sonante do meu coração quente era lenha de uma fogueira sem fim cujo fogo crepitava sabendo que tudo girava à sua volta.
No meu olhar residia a chama do sentido. Não havia ponta desatada e solta no novelo em que se tornava, dia após dia, a minha vida ainda breve. O relógio gira, e eu giro com ele, deixo o cabelo solto ao vento e monto a cela desde touro bravo do qual poderei cair, mas que não largarei enquanto o sol brilhar.
Sei que o meu corpo está entrelaçado no teu, que consumo e emito raios de paixão. As minhas curvas pedem as tuas mãos, e o teu toque exige mais do que o real. Ah, louca seja se essa for a vontade dos deuses, sou desvairada mas sou feliz, estou completa e realizada.
O espelho mostra as asas que me nasceram nas costas, longas e afiladas, brilhantes, reluzentes, velozes. Elas vibram e oscilam, como quem quer mostrar o que vale, e eu olho-as deliciada. Cada pedaço de mim é agora orgulho do que conquistei, do que sou, daquilo em que me tornaste, da potencialidade do que me poderei vir a tornar.


Sei que a Terra gira na palma da minha mão, que num sopro ela sai dos eixos e, como uma pena, fica suspensa no infinito, frágil bola de sabão, anda até rebentar. O mundo inteiro de pernas para o ar.

1 comentário:

JMA disse...

"O espelho mostra as asas que me nasceram nas costas, longas e afiladas, brilhantes, reluzentes, velozes." E céleres?