sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Máquina de guerra

Os olhos fitam o frenesim do mundo enchendo-se de solidão. A multidão corre apressada chocando com a humanidade e o isolamento no caos é inevitável e doloroso. É-me impossível não sentir que sou um ponto nulo numa soma de parcelas cujo total não ultrapassa certamente a unidade. Ainda assim sofro por isso, sinto falta da proximidade e do calor daqueles que são formados pela mesma carne e osso que eu, que me rodeiam numa frieza de aço mecanizado e se assemelham a maquinaria pesada. O sangue que lhes corre nas veias tem o cheiro e o poder do verde, a aparência do cinzento. Não sou assim. Vejo a paisagem colorida das janelas dissolver-se numa massa incolor, rígida e impenetrável. O cheiro do perfume dos outros fundiu-se com o fumo dos carros, em vez de risos e vozes ouço o retinir grave e compassado dos motores. Não posso mais, não quero mais. Isolem-me no vazio natural mas tirem-me da solidão da gente.

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