sábado, 26 de setembro de 2009

Fogo cigano

Noite quente, pés descalços no chão de terra batida, seca e gretada. Envolve-me o xaile negro que já viu mais corpos que as agulhas que o criaram. Meus olhos seguem o teu percurso, curiosos, ardentes. Junto à viola deixo que os acordes guiem os meus movimentos, ouço os risos e a voz rouca e embargada de quem canta com alma pura. O momento é mágico. Vejo-te, lentamente, caminhar para mim. Ouço um forte cavalgar a galope que nada mais é que o meu coração ao rubro. Estendes-me a mão, grande, forte, bela. Dou-te a minha como quem se entrega de corpo inteiro num único movimento. Dançamos. Meu corpo junto ao teu, nossos cheiros misturados, teus lábios tão perto dos meus que lhes consigo sentir o sabor. O alegre crepitar das chamas que connosco bailam na fogueira está espelhado nos teus olhos, e eu sinto que esse fogo me consome vorazmente. A viola geme e eu acompanho-a, saia ao vento, cabelo ao luar. A música pára mas não impede que o turbilhão em que giramos apenas os dois continue a unir-nos. Quando os teus lábios se fundem com os meus sei que a noite é eterna.

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