domingo, 28 de fevereiro de 2010

Enquadrada

Acordei com um grito e aquela sensação de falta de ar. Num ímpeto sentei-me, tossi, fechei os olhos com força. Senti as bochechas molhadas e reparei que me ardiam os olhos, muito, e que a respiração me saía a galope. Estivera a chorar. Tinha acordado sufocada pelas minhas próprias lágrimas, pelo soluçar descontrolado de quando perco o controlo
Teria tido vergonha, se não estivesse sozinha. Ter-me-ia levantado e fugido a correr, se não estivesse onde estava. Mas fiquei quieta, deixei as lágrimas fluírem. Respirei devagar e senti tudo à minha volta. A areia macia acariciava-me as mãos e os pés. O vento frio arrepiava-me a pele e gelava-me o rosto. Trazia consigo o aroma salgado do mar, exótico e arrebatador. O rugir das ondas enchia-me os ouvidos, acompanhado pelo coro das gaivotas, distante. Era um espectáculo digno de se ver, com vagas gigantes a engolirem rochas e areia, a rebentarem com uma raiva letal contra quem atravessasse o seu caminho. Sentia-lhe a força como se me corresse nas veias. O mar estava escuro, mais cinzento que o aço, e erguia-se imponente das profundezas do horizonte. Era um gigante maciço com raiva do mundo, todo ele espumando.
Não sei quando parei de chorar, nem quanto mais tempo fiquei ali. Deixei-me abraçar e envolver pela praia, enraizei-me àquele lugar como se lá tivesse nascido e nunca de lá devesse ter saído.

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