sábado, 27 de fevereiro de 2010

Algures

Adormeci por entre folhas amareladas de textura suave e sabor doce, flutuando no aroma delicado do papel e da tinta, vendo as personagens de um conto qualquer dançarem à minha volta até se fundirem numa só, ouvindo vozes sem donos e falas sem nexo. Sorri para uma vida que é mais minha que aquela que o meu corpo leva, mas que insiste em escapar-me por entre os dedos. Corri atrás de uma ilusão como quem tem nos pés chinelos de quarto, grandes, moles, toscos, arrastei as pernas e fui caindo.
É engraçado como o sonho é o reverso da lei da gravidade, quando em vez de me empurrar para o chão me faz voar para longe. Algures naquelas páginas encontrei uma poção que bebi tão avidamente que ainda antes de me dar conta já estava a transbordar daquele nevoeiro mágico, místico, e foi aí que encontrei quem realmente sou. É para aí que vou todos os dias. E aí ninguém me vai encontrar.

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