Já não há quem sorria na rua. Parece incrível, mas de facto o universo cinzento maquinal que nos rodeia, com o seu urro de besta ensurdecedor reproduzido nos mais diversos objectos e o seu semblante frio de ferro duro e aço inoxidável, conseguiu consumir a alma da gente. Já não há risos espontâneos, olhares expressivos e gestos amáveis. Agora há relógios, fumo e alcatrão, há botões e massas compactas num transe nebuloso. A humanidade morreu.
Já não sei o que é feito do verde, o som do mar é remoto, o céu que me cobre a noite perdeu há muito as estrelas e tenho na lista telefónica mais números que amigos. Já não é outra mão que agarra a minha, é provavelmente uma mala com objectos pessoais, mesmo que eles nada signifiquem, ou um qualquer prolongamento mecânico da mesma (sendo este um telemóvel, um teclado de computador, um leitor de mp3 ou uma batedeira). Encontro mais frequentemente os meus lábios em busca de um frio e baço copo de água ou qualquer outro elemento líquido que seque minha boca do que procurando relembrar o calor do toque provocado pelos teus.
Tenho nojo desde tufão tecnológico alimentado já não por electricidade ou baterias, mas por corações que batem sempre ao mesmo compasso, por almas desertas de sonhos e desejos, por corpos cientificamente vivos mas mortos para a vida.
Procuro conforto na tinta espessa que escorre da pena quando a seguro, quente, entre os dedos, passo a mão pela textura irregular da folha de papel e o seu cheiro característico faz brotar lágrimas em meus olhos. Afinal ainda há cá dentro o inexplicável, mais que não seja a saudade e a memória. Afinal, mesmo que fraca, ainda desejo veementemente resistir e lutar. Não quero mais explicações metodológicas, estou farta de ver a vida representada em números, não quero saber dos átomos que constituem as moléculas do ar que respiro. Será que ninguém percebe que a beleza da vida está no inexplicável, na carícia do acaso, no doce toque do inesperado que causa arrepio?
Agora, pensado bem, talvez faça alguma coisa. Vou correr para a janela estreita, abri-la de par em par e gritar a plenos pulmões “Há aí humanidade?”. Mesmo antes de o fazer já ouço o eco da minha voz…haverá alguém na rua?
Já não sei o que é feito do verde, o som do mar é remoto, o céu que me cobre a noite perdeu há muito as estrelas e tenho na lista telefónica mais números que amigos. Já não é outra mão que agarra a minha, é provavelmente uma mala com objectos pessoais, mesmo que eles nada signifiquem, ou um qualquer prolongamento mecânico da mesma (sendo este um telemóvel, um teclado de computador, um leitor de mp3 ou uma batedeira). Encontro mais frequentemente os meus lábios em busca de um frio e baço copo de água ou qualquer outro elemento líquido que seque minha boca do que procurando relembrar o calor do toque provocado pelos teus.
Tenho nojo desde tufão tecnológico alimentado já não por electricidade ou baterias, mas por corações que batem sempre ao mesmo compasso, por almas desertas de sonhos e desejos, por corpos cientificamente vivos mas mortos para a vida.
Procuro conforto na tinta espessa que escorre da pena quando a seguro, quente, entre os dedos, passo a mão pela textura irregular da folha de papel e o seu cheiro característico faz brotar lágrimas em meus olhos. Afinal ainda há cá dentro o inexplicável, mais que não seja a saudade e a memória. Afinal, mesmo que fraca, ainda desejo veementemente resistir e lutar. Não quero mais explicações metodológicas, estou farta de ver a vida representada em números, não quero saber dos átomos que constituem as moléculas do ar que respiro. Será que ninguém percebe que a beleza da vida está no inexplicável, na carícia do acaso, no doce toque do inesperado que causa arrepio?
Agora, pensado bem, talvez faça alguma coisa. Vou correr para a janela estreita, abri-la de par em par e gritar a plenos pulmões “Há aí humanidade?”. Mesmo antes de o fazer já ouço o eco da minha voz…haverá alguém na rua?
1 comentário:
Devias ser proibida de me prenderes desta maneira ao que escreves.
Quando te raptarem fica aqui claro que foi por minha ordem, só para te ter disponível para escrever para mim!
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