Às vezes pergunto-me porque é que a minha cabeça parece um novelo tão emaranhado em si mesmo e repleto de nós que me impede de ver a vida com clareza e objectividade, que me sujeita a toda a hora a um bombardeamento incansável de ideias e pensamentos que não pedi e que tanto me perturbam, que me atira sem dó nem piedade para um abismo que tem um novo fundo de cada vez que nele caio, que me consome lentamente de dentro para fora e que me faz perder a fé em tudo.
Já não sei quem sou, o que quero, pelo que luto. Já nem sequer sei se vale a pena lutar. Esta Terra que dizem ter gente a mais assemelha-se a um planeta fantasma no qual me vejo sozinha, densa, complexa, triste, rodeada no entanto de todo o tipo de bonecos animados que parecem viver, de pálidos espectros do que seria um povo, de todo e qualquer apetrecho mecânico, inventado e inútil, que cobre a pureza do natural e o transforma num labirinto metálico ensurdecedor. Há à minha volta um universo criado com base nos caprichos de mentes anónimas que cobre a realidade que nunca verei. Não sei de que cor é a terra por baixo na casa onde vivo, não sei qual a textura do solo sob a cama onde durmo, não sei que cor tinha o céu antes de tanta substância se ter acumulado no ar… no fundo só tenho acesso ao monopólio criado por antepassados impossíveis de imaginar, a camadas e camadas de uma evolução que não sei até que ponto pode ser considerada positiva.
Algo no meu ser é incompatível com estas amarras que me prendem, o meu éter, cego, urra de dor e raiva por estar preso a este corpo, porque este, com todas as suas limitações inatas impostas por uma sociedade fantoche, é uma cápsula corrosiva para a luz que teima em soltar-se e ser livre. Filosofia ingrata, esta; como dói pensar, como é dilacerante este raio que me fulmina de cada vez que dou asas ao meu espírito, como sou brutalmente esmagada por essa águia de garras afiadas que me toma como potencial inimigo antes de ouvir o que tenho a dizer. A racionalidade é o obstáculo que se prostrou no meu caminho e teima em não sair de lá.
A minha essência é grande demais, não cabe na forma humana que me foi dada sem ao mesmo tempo conseguir libertar-se dela. A luta travada em mim é feia e mata-me pouco a pouco, não há como fugir, não estou apta a negá-la, simplesmente toda eu sou contradições e controvérsias, toda eu sou feita para viver num mundo que não existe, o meu molde não encaixa num planeta que é hoje uma gigante implantação de silicone, sem que ninguém dê conta. Sou prisioneira em mim, e, se ter de viver adoptando uma máscara para cada situação já não era castigo suficiente, vem de dentro de mim a força que me impele cada vez com mais intensidade a explodir num milhão de estrelas e ser, de uma vez, o que me diz o instinto.
A minha cabeça lateja de tanto pensamento sobreposto, as veias dilatam, o cérebro entrou em efervescência, a visão, turva, pede a escuridão externa e interna, uma paz final, talvez merecida. O meu coração bate num compasso irregular, indeciso entre o pêndulo constante, a onda veloz ou a pluma sem densidade. Ambos me pedem tréguas, ambos me exigem uma força e coragem que não sei onde procurar, já nenhum aguenta esta prisão que assume sorrisos e lágrimas, amigos que nunca foram e rotinas de morgue.
Choro numa tentativa de alívio, alio o isolamento físico ao psíquico que sempre vivi e procuro acalmar…mas não dá. A tensão cá dentro cresce e ameaça rebentar em meu peito. Quem dera não me ter entregue a esta humanidade que é cada centímetro de mim, quem dera nunca ter amado e não estar agora nesta posição que não me deixa desistir, não por mim, mas pelos que de mim precisam…pois agora não haveria amarra que contivesse o meu espírito inquieto. Alguém se enganou quando deu vida à minha essência neste contexto, eu enganei-me quando ousei criar laços de amor… terei força para criar um mundo novo?
Já não sei quem sou, o que quero, pelo que luto. Já nem sequer sei se vale a pena lutar. Esta Terra que dizem ter gente a mais assemelha-se a um planeta fantasma no qual me vejo sozinha, densa, complexa, triste, rodeada no entanto de todo o tipo de bonecos animados que parecem viver, de pálidos espectros do que seria um povo, de todo e qualquer apetrecho mecânico, inventado e inútil, que cobre a pureza do natural e o transforma num labirinto metálico ensurdecedor. Há à minha volta um universo criado com base nos caprichos de mentes anónimas que cobre a realidade que nunca verei. Não sei de que cor é a terra por baixo na casa onde vivo, não sei qual a textura do solo sob a cama onde durmo, não sei que cor tinha o céu antes de tanta substância se ter acumulado no ar… no fundo só tenho acesso ao monopólio criado por antepassados impossíveis de imaginar, a camadas e camadas de uma evolução que não sei até que ponto pode ser considerada positiva.
Algo no meu ser é incompatível com estas amarras que me prendem, o meu éter, cego, urra de dor e raiva por estar preso a este corpo, porque este, com todas as suas limitações inatas impostas por uma sociedade fantoche, é uma cápsula corrosiva para a luz que teima em soltar-se e ser livre. Filosofia ingrata, esta; como dói pensar, como é dilacerante este raio que me fulmina de cada vez que dou asas ao meu espírito, como sou brutalmente esmagada por essa águia de garras afiadas que me toma como potencial inimigo antes de ouvir o que tenho a dizer. A racionalidade é o obstáculo que se prostrou no meu caminho e teima em não sair de lá.
A minha essência é grande demais, não cabe na forma humana que me foi dada sem ao mesmo tempo conseguir libertar-se dela. A luta travada em mim é feia e mata-me pouco a pouco, não há como fugir, não estou apta a negá-la, simplesmente toda eu sou contradições e controvérsias, toda eu sou feita para viver num mundo que não existe, o meu molde não encaixa num planeta que é hoje uma gigante implantação de silicone, sem que ninguém dê conta. Sou prisioneira em mim, e, se ter de viver adoptando uma máscara para cada situação já não era castigo suficiente, vem de dentro de mim a força que me impele cada vez com mais intensidade a explodir num milhão de estrelas e ser, de uma vez, o que me diz o instinto.
A minha cabeça lateja de tanto pensamento sobreposto, as veias dilatam, o cérebro entrou em efervescência, a visão, turva, pede a escuridão externa e interna, uma paz final, talvez merecida. O meu coração bate num compasso irregular, indeciso entre o pêndulo constante, a onda veloz ou a pluma sem densidade. Ambos me pedem tréguas, ambos me exigem uma força e coragem que não sei onde procurar, já nenhum aguenta esta prisão que assume sorrisos e lágrimas, amigos que nunca foram e rotinas de morgue.
Choro numa tentativa de alívio, alio o isolamento físico ao psíquico que sempre vivi e procuro acalmar…mas não dá. A tensão cá dentro cresce e ameaça rebentar em meu peito. Quem dera não me ter entregue a esta humanidade que é cada centímetro de mim, quem dera nunca ter amado e não estar agora nesta posição que não me deixa desistir, não por mim, mas pelos que de mim precisam…pois agora não haveria amarra que contivesse o meu espírito inquieto. Alguém se enganou quando deu vida à minha essência neste contexto, eu enganei-me quando ousei criar laços de amor… terei força para criar um mundo novo?
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