Mãos nos bolsos, capuz na cabeça, andar apressado. Vestida de negro mal se vê na rua pouco iluminada, passando como se fugisse aos candeeiros intermitentes. Mas não disfarça o ruído dos saltos no alcatrão. Entra numa porta discreta, sem número nem lote, sem fechadura. Bate e entra, assim, sem diálogos.
Despe o casaco sem levantar os olhos. Sobe os degraus indiferente ao ranger da madeira, aos gemidos e aos gritos meio sufocados que se ouvem por entre portas fechadas e veludos cor de sangue, aos baques surdos nas paredes, ao enebriante cheiro a álcool e a fumos.
Entra numa porta como as outras e fecha-a atrás de si. Tira o vestido justo e as meias de vidro, deixa que lhe tirem o resto. Na penumbra pouco vê, quase tão pouco quanto sente enquanto mecanicamente faz o que tem a fazer. Geme como as outras. Grita como as outras. Hora após hora cumpre os acordos pré-estabelecidos e troca o orgulho pela sobrevivência.
Despe o casaco sem levantar os olhos. Sobe os degraus indiferente ao ranger da madeira, aos gemidos e aos gritos meio sufocados que se ouvem por entre portas fechadas e veludos cor de sangue, aos baques surdos nas paredes, ao enebriante cheiro a álcool e a fumos.
Entra numa porta como as outras e fecha-a atrás de si. Tira o vestido justo e as meias de vidro, deixa que lhe tirem o resto. Na penumbra pouco vê, quase tão pouco quanto sente enquanto mecanicamente faz o que tem a fazer. Geme como as outras. Grita como as outras. Hora após hora cumpre os acordos pré-estabelecidos e troca o orgulho pela sobrevivência.
Prisioneira de todas as necessidades do corpo. Assassina de sonhos. Caçadora de desejos. Túmulo de segredos. É apenas mais uma. Talvez seja uma a mais. (Mas não somos todos, de uma maneira ou de outra?)
2 comentários:
Como sempre, uma pequena grande maravilha, enches-me de coragem para seguir em frente... Bom Ano Novo
Estrelinha*
Um texto de grande sensibilidade. Para reflectir...
Um beijo, Rita e que o teu 2011 seja bom.
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