O meu passado usa lentes. Entretanto, sou eu quem vive assente numa imagem do real que reflecte, que refracta, que é difusa, desfocada, às vezes escura, outras de um brilho tão ofuscante que encandeia. O meu passado usa lentes, e eu não sei até onde é verídica a noção do que vivi, não consigo definir a ténue linha que separa o raio que chegou e aquele que na verdade interpretei e assumi.
Hoje, o meu presente é cego: guia-se por palpação num terreno que desconhece, tendo por princípio bases que oscilam como areias movediças, que ora sugam lentamente mas num compasso afinado, ora parecem inócuas e até apetecíveis. Entretanto eu perco-me, divago, desespero. O tempo escorre pela vidraça; observo, melancólica, as marcas que cada gota deixou à sua passagem. Suspiro, como eu suspiro. Do fundo de mim vem uma força que dispensa dimensões, que deixa o tempo para quem insiste em usar relógio, que se ri da relatividade absurda do espaço. As lentes do meu passado foram embaciadas pelo ar quente que expirei, hoje olho-as, penso nelas e, deixando-me guiar pelos sentidos, faço nelas desenhos irregulares com o dedo. Mais ar quente. A lente cada vez mais baça e eu cada vez mais perdida.
No fundo, não sei bem do que reclamo. Se o meu passado usa lentes, o da humanidade cedo acusou diagnóstico de cegueira. À minha volta vagueiam, errantes, almas tremidas que sofrem de miopia, cataratas, estrabismo, conjuntivite. De quando em vez lá surge quem bem veja, ou tenha recorrido aos óculos. A maioria simplesmente ignora a doença que os consome e degrada.
Não sei que luz é esta que hoje chega, que amanhã iluminará, e que já ontem cá esteve. Mas, acima de tudo o resto, essa luz está cá, e sou eu quem decide se o seu propósito é iluminar, guiar ou simplesmente estar presente, esperando que eu dela necessite.
E agora cá esta ela. Essa ampulheta de lentes que me olha e sorri, que tem dentro uma massa heterogénea hipnotizante indefinível. Afinal só tinha visto a parte de baixo. O meu futuro, felizmente, também usa lentes!
Hoje, o meu presente é cego: guia-se por palpação num terreno que desconhece, tendo por princípio bases que oscilam como areias movediças, que ora sugam lentamente mas num compasso afinado, ora parecem inócuas e até apetecíveis. Entretanto eu perco-me, divago, desespero. O tempo escorre pela vidraça; observo, melancólica, as marcas que cada gota deixou à sua passagem. Suspiro, como eu suspiro. Do fundo de mim vem uma força que dispensa dimensões, que deixa o tempo para quem insiste em usar relógio, que se ri da relatividade absurda do espaço. As lentes do meu passado foram embaciadas pelo ar quente que expirei, hoje olho-as, penso nelas e, deixando-me guiar pelos sentidos, faço nelas desenhos irregulares com o dedo. Mais ar quente. A lente cada vez mais baça e eu cada vez mais perdida.
No fundo, não sei bem do que reclamo. Se o meu passado usa lentes, o da humanidade cedo acusou diagnóstico de cegueira. À minha volta vagueiam, errantes, almas tremidas que sofrem de miopia, cataratas, estrabismo, conjuntivite. De quando em vez lá surge quem bem veja, ou tenha recorrido aos óculos. A maioria simplesmente ignora a doença que os consome e degrada.
Não sei que luz é esta que hoje chega, que amanhã iluminará, e que já ontem cá esteve. Mas, acima de tudo o resto, essa luz está cá, e sou eu quem decide se o seu propósito é iluminar, guiar ou simplesmente estar presente, esperando que eu dela necessite.
E agora cá esta ela. Essa ampulheta de lentes que me olha e sorri, que tem dentro uma massa heterogénea hipnotizante indefinível. Afinal só tinha visto a parte de baixo. O meu futuro, felizmente, também usa lentes!
1 comentário:
Adoro como reflectes o ser eteronimo de espadachins e estuques de vidraças quentes comó milho!
Escreves como se não houvesse amanhã e admiro-te por isso. Beijos fofa a priminha adora-te!
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