Houve, uma vez, um primeiro amor. Aquele que chegou não se sabe de onde nem quando, vindo por alguma razão desconhecida, que nasceu do nada num descampado virgem e se apropriou, regendo tudo à sua volta pelas suas regras.
Mas que regras? Quais são realmente os traços que definem o primeiro amor? Para mim, nada mais que o excesso, o exagero. De tudo. Primeiro, há demasiada curiosidade, demasiada vergonha, demasiado medo, demasiado nervosismo, quando damos por nós gostamos demasiado, vivemos demasiado, tudo à nossa volta é perfeito em excesso. Depois surgem demasiados ciúmes, demasiados suores frios, dói demais, volta-se a ter muito receio, e tem-se tanta saudade que se acha inclusivamente que se vai explodir. Se passar, as demasiadas emoções contidas dão origem a um demasiado efusivo reencontro, e do demasiado escuro buraco onde haviamos caído emergimos com uma velocidade demasiado grande para um patamar alto demais, onde tudo volta a ser demasiado bom. E o tempo vai passando, com os sentimentos e as emoções a explodirem mesmo á flôr da pele, e vamos aprendendo, até que chega ao fim, até que não dá mais, até que a situação se torna insuportável e a relação acaba. É o inferno, o buraco mais fundo, a maior queda de sempre, a dor inimaginável, as lágrimas que não param de rolar pelo nosso rosto. É o pesadelo do qual pensamos que jamais voltaremos a sair vivos, e o nosso coração está partido em tantos bocadinhos que não só pensamos que nunca mais o poderemos reconstruir, como que nunca mais gostaremos a sério de mais ninguém.
Isto é, no entanto, apenas uma semi-verdade. O coração parte, mas por mais pequenos que sejam os estilhaços há sempre alguém capaz de os colar todos de novo, com paciência, devagar, ao nosso ritmo. Não fica como novo, restará sempre a cicatriz, mas continua funcionável. Depois do primeiro amor de facto não há outro... como ele!
O tempo ajuda a que apareçam mais e diferentes amores. Alguns mais verdadeiros, outros mais seguros, uns mais loucos, outros que nos deixam e fazem sentir mais felizes, uns que duram mais, outros que quase nos passam ao lado e poucas são as lembraças que dele deixamos e talvez até algum que dure para sempre. Mas o facto é que nenhum é tão fortemente "mais" como o primeiro. Porque o primeiro era mais tudo, era mais para o bem e para o mal, foi a descoberta de nós mesmos e de um outro que nos interessa tanto ou mais que nós próprios. Foi o desbravar de um mar desconhecido e inexplorado, havia em cada segundo o gosto forte da descoberta, do novo, que nos fazia querer tudo ao máximo... e foi. Um primeiro amor nunca pode ser mais um amigo. Um primeiro amor jamais será mais um.
4 comentários:
Tal como tu, sei a verdade. Sou muito apologista disto. Mas também sei tal como tu a dificuldade de o largar... Custa.
Exelente Blog
Continua com o bom trabalho
Gostei do teu texto amiga.
É aquele com que cada um de nós se identifica. Seja lá quem for.
E porque o primeiro amor deixa sempre marca, todos e cada um têm o desejo de ser marcados. E são. =)
Gostei sim *
bom comeco
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