Saí do banho, entrei no quarto e fechei a porta. Em frente ao espelho larguei a toalha no chão, e olhei-me nos olhos. O profundo castanho luzia como se estivesse em chamas.
E fui mudando. A pele escureceu, ficou mais rija, curtida, o cabelo cresceu, os olhos rasgaram. O espelho quebrou em centenas de pedacinhos, as paredes do quarto ruíram com um barulho ensurdecedor. Mas os destroços não se acumularam no chão, não. Eles subiram como que puxados pelo céu e pareciam desintegrar-se. Vi que não era só o meu quarto. Era a minha casa inteira, cimento e mobília. Eram todos os prédios e moradias da vizinhança. Eram os carros, os postes, as roupas, os computadores, os placards, as estradas. O céu vacilava entre cinzentos e breu, ribombava em trovões num padrão em espiral, os raios caíam como dardos no solo que tremia levantando poeira e rugindo como uma besta raivosa. Encolhi-me o mais que pude e tapei-me o mais que consegui com os braços. Não sei quanto tempo durou esta luta cúmplice entre o céu e a terra, mas acabou tão repentinamente quanto começou.
Talvez deva dizer o que ficou. Ficaram as árvores, as rochas, os animais, a terra. Ficou o mar. Ficaram as pessoas. A natureza cresceu numa questão de segundos por todo o lado. Nasceram vales e montes, trilhos de terra batida, grutas e florestas. Os sons mudaram. Já não se ouviam motores e buzinas, telemóveis e passos apressados. Agora pairava no ar uma melodia que me embalava e enchia por dentro. Ouvia pássaros e água corrente. Ouvia um canto, algures. Ouvia relinchar. O ar cheirava a erva molhada. A cor do céu era diferente, era mais nítida. Como se o tivessem pintado de fresco. Um azul realmente celeste, alaranjado na linha do horizonte. Andei com os pés descalços na terra húmida, afastando galhos. Conforme o corpo roçava em folhas, caules, pétalas…a sensação era diferente. As texturas. Nunca sentira as texturas. Parei perto num riacho. A água corria livre, tão limpa, tão fresca. Na outra margem um cavalo branco bebia avidamente. Deve ter sentido a minha presença, porque me olhou, e no entanto não fugiu. Atravessei a pé a zona mais baixa para me aproximar da imponente criatura. Deixei-o sentir o meu cheiro e ser ele a chegar perto.
Talvez deva dizer o que ficou. Ficaram as árvores, as rochas, os animais, a terra. Ficou o mar. Ficaram as pessoas. A natureza cresceu numa questão de segundos por todo o lado. Nasceram vales e montes, trilhos de terra batida, grutas e florestas. Os sons mudaram. Já não se ouviam motores e buzinas, telemóveis e passos apressados. Agora pairava no ar uma melodia que me embalava e enchia por dentro. Ouvia pássaros e água corrente. Ouvia um canto, algures. Ouvia relinchar. O ar cheirava a erva molhada. A cor do céu era diferente, era mais nítida. Como se o tivessem pintado de fresco. Um azul realmente celeste, alaranjado na linha do horizonte. Andei com os pés descalços na terra húmida, afastando galhos. Conforme o corpo roçava em folhas, caules, pétalas…a sensação era diferente. As texturas. Nunca sentira as texturas. Parei perto num riacho. A água corria livre, tão limpa, tão fresca. Na outra margem um cavalo branco bebia avidamente. Deve ter sentido a minha presença, porque me olhou, e no entanto não fugiu. Atravessei a pé a zona mais baixa para me aproximar da imponente criatura. Deixei-o sentir o meu cheiro e ser ele a chegar perto.
Como Homens, imaginem o final para esta história.
Se eu pudesse...
(Um pequeno extra: imagem, como quase sempre, de Luis Royo. Um artista com A grande.)
2 comentários:
Mais uma vez estás de parabéns...
Adorei...
Espero que continues...
Muito, muito, muito fixe...
Beijinhos*
Continuo a gostar do estilo e da estética da tua escrita. Um beijo.
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