Cega estava a razão quando deu asas ao coração. Cego fica o Homem de cada vez que, de ânimo leve, lhe dá a mão como a um fiel melhor amigo e o deixa guiá-lo para a loucura. Cega estive eu tanto tempo, e só eu sei o esforço que faço para rabiscar meia dúzia de palavras neste fragmento de lucidez que não sei quanto tempo durará, até que a luz volte a apagar, e fantoche me torne de novo.
Um olhar cruzado e lá vai toda a racionalidade construída com esforço. Uma só palavra e desmorona o palácio de cristal formado por todas as premissas, todos os argumentos, todas as verdades. Um toque apenas e rui também a decisão tomada, rui o sentido de responsabilidade e a consciência. De um instante para o outro reina a ilusão e o encantamento, desvanecem prioridades e perdem-se oportunidades.
E flutua-se. Voa-se, divaga-se, sonha-se. Ganha asas corpo e espírito; baila o pensamento, gracioso, por entre memórias de encontros furtivos e desejos de beijos. E cintila a noite, eterna companheira do amor, disposta a ceder estrelas cadentes, luares e sombras…oferece a ilusão, a negra escuridão acolhedora, e em troca consome esperanças, sonhos, inocência, calor.
Até que o olhar se afasta, a palavra morre na boca de quem a profere e o gesto tarda demais. De repente o tempo passa e a solidão toma posse; agora assombra o medo, a dor, a mágoa. Agora, caídos das nuvens, não há anjo que seque a lágrima que escorre do olhar vazio. A treva surge trocista, voraz. Alegria perdida, resta o corpo oco e o tal coração, traidor sem vergonha, que ousa continuar a bater, imune ao seu próprio golpe.
Desta vez a noite vem destapada. Olha-nos e ri-se, altiva, vitoriosa. Lança-nos frio, sombra e escuridão, e pergunta com voz doce “Onde anda essa força protectora agora?”. A vergonha, encolhida, engole em seco. A alma sangra. A memória grita de angústia, a razão acusa-nos, o pensamento chora…e o coração bate.
Mas, sem sabermos bem como, lá arranjamos força para nos levantarmos. O sol nasce timidamente, lança meio que a medo um raio morno para nos aquecer a pele, e a ambição contribui com um impulso arrojado. Os olhos já secaram; a ferida não cicatrizou, mas também já não sangra. Olhando o horizonte engolimos em seco, e atiramo-nos de novo à corrente da vida, puxamos pela razão e ela vem. E, se tentarmos, no silêncio do pensamento ouvimos o coração bater no peito.
E, agora, ainda consciente, repudio-me pela fraqueza. Pela falta de firmeza no que toca ao sentimento. Mas sei que ele cá está, intocável, a bater no seu compasso dançado. E à esquina estás tu, pronto a atormentar-me eternidade fora, num gesto que é nosso…
Eu sei de cor…coração Judas, que me trais com beijos…
Um olhar cruzado e lá vai toda a racionalidade construída com esforço. Uma só palavra e desmorona o palácio de cristal formado por todas as premissas, todos os argumentos, todas as verdades. Um toque apenas e rui também a decisão tomada, rui o sentido de responsabilidade e a consciência. De um instante para o outro reina a ilusão e o encantamento, desvanecem prioridades e perdem-se oportunidades.
E flutua-se. Voa-se, divaga-se, sonha-se. Ganha asas corpo e espírito; baila o pensamento, gracioso, por entre memórias de encontros furtivos e desejos de beijos. E cintila a noite, eterna companheira do amor, disposta a ceder estrelas cadentes, luares e sombras…oferece a ilusão, a negra escuridão acolhedora, e em troca consome esperanças, sonhos, inocência, calor.
Até que o olhar se afasta, a palavra morre na boca de quem a profere e o gesto tarda demais. De repente o tempo passa e a solidão toma posse; agora assombra o medo, a dor, a mágoa. Agora, caídos das nuvens, não há anjo que seque a lágrima que escorre do olhar vazio. A treva surge trocista, voraz. Alegria perdida, resta o corpo oco e o tal coração, traidor sem vergonha, que ousa continuar a bater, imune ao seu próprio golpe.
Desta vez a noite vem destapada. Olha-nos e ri-se, altiva, vitoriosa. Lança-nos frio, sombra e escuridão, e pergunta com voz doce “Onde anda essa força protectora agora?”. A vergonha, encolhida, engole em seco. A alma sangra. A memória grita de angústia, a razão acusa-nos, o pensamento chora…e o coração bate.
Mas, sem sabermos bem como, lá arranjamos força para nos levantarmos. O sol nasce timidamente, lança meio que a medo um raio morno para nos aquecer a pele, e a ambição contribui com um impulso arrojado. Os olhos já secaram; a ferida não cicatrizou, mas também já não sangra. Olhando o horizonte engolimos em seco, e atiramo-nos de novo à corrente da vida, puxamos pela razão e ela vem. E, se tentarmos, no silêncio do pensamento ouvimos o coração bater no peito.
E, agora, ainda consciente, repudio-me pela fraqueza. Pela falta de firmeza no que toca ao sentimento. Mas sei que ele cá está, intocável, a bater no seu compasso dançado. E à esquina estás tu, pronto a atormentar-me eternidade fora, num gesto que é nosso…
Eu sei de cor…coração Judas, que me trais com beijos…
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