segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Desespero


As horas passam lentas por mim. Uma, duas, três… vejo os ponteiros do relógio girarem lentos numa tontura eterna e sincronizada que de dança tem apenas o compasso, cujo ritmo é igual ao do meu coração.
Paro. Nada me parece suficientemente produtivo e útil para aqueles segundos que passam e que me fogem entre os dedos sem que tenha oportunidade de os agarrar. Ler custa, as letras são pequenas demais, atropelam-se, enrolam-se, entorpecem os meus sentidos. Ouvir cansa, enche, aborrece e enerva, com todos aqueles sons misturados num grito terrivelmente desafinado que se assemelha a um conjunto de objectos cada um a gritar para seu lado, acompanhados por uma voz que parece suplicar por silêncio. Observar é pouco, conheço cada forma, cada cor, cada sombra, nada é novo, apenas o meu tédio perante tudo o que surge. Volto a olhar o relógio… mais segundos que vão e não voltam, mais minutos que passam por mim e me gritam adeus, como se se estivessem a despedir de uma desgraçada que jamais terá sucesso numa vida de oportunidades.
Deito-me e fecho os olhos, sinto que me falta alguma coisa e a garganta aperta. Abro os olhos e volto a sentar-me, não há tontura, apenas a ilusão por breves momentos que tudo é como de costume… até que a minha alma desesperada pede ansiosa algo mais.
No fundo finjo. Sei o que quero, sei o que sinto, sei de onde vem o nó horrível que me aperta a garganta. Apenas o evito, o renego, apenas me dou ao luxo de lhe virar as costas e tentar ser mais forte, apesar de saber que é totalmente impossível, que ele me apanhará sem problemas, mais tarde ou mais cedo. Posso fugir, mas não me posso esconder de mim mesma, do meu maior pesadelo. A tua voz ressoa nos meus ossos como um tilintar de sino de igreja, cerro os olhos com força e vejo os teus a mirarem-me do escuro, afasto-os com mais força ainda e deparo-me inevitavelmente com o teu sorriso. Não me persigas, desaparece. O teu mundo e o meu simplesmente não encaixam. Será que o meu alguma vez virá a encaixar onde quer que seja?
Saio porque não aguento mais esta sina. Corro veloz nas ruas que mal vejo passar por mim, grito ao vazio e tapo as orelhas porque não quero resposta. Caio, rasgo a roupa que não sei porque tenho vestida, levanto-me e continuo a correr para o nada, por nada. As lágrimas nublam a minha visão e aquecem-me, perco o fôlego e mal posso respirar, deixo-me derrubar desamparada não sei bem onde e fico lá, deixo que passem todos os meus autocarros perdidos por natureza própria, como alguém bem mas sábio que eu teve a sensatez de dizer.
Como pode o nada doer tanto, mas que vazio é este que me enche de tristeza, de dor, de mágoa, de aflição? E que coração o meu, que alma, que sina, que destino, que força é capaz de me guiar sempre na direcção errada, qual é o principio que me indica sempre o caminho que eu não devo seguir, porque é que acabo agarrada sempre aquilo que sei que perderei, aquilo que me fere, que me rasga por dentro com unhas e dentes e destrói o que lá estiver? Grito mais e mais, sem forças desespero, vem e leva-me, força, mata-me, arranca-me a essência e fica feliz, explode-me num rio de sangue espesso que corra quente na calçada imunda que os teus passos percorrem diariamente, mas por favor tira-me desta agonia…

2 comentários:

Anónimo disse...

Como a lagrima que escorre para o infinito, deslizo eu entre as tuas palavras e vejo nelas o espelho reflectido da minha miseravel existencia. Entras em mim e reviras todo um obscuro manto de pensamentos, um turbilhao de sentimentos e escreves-me nas tuas palavras, deixando-me fluir para a a mais amargurada tristeza chamada Vida. So tu me compreendes, minha linda...

Anónimo disse...

LOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOL