Ao fim de três pontapés na mesma mesa Mafalda desistiu. Era inútil! Para que lhe serviria uma lanterna com luz fraca, ainda que a encontrasse? Tentaria fazer o jantar, e depois ficaria às escuras com ele ao lume. Aí sim, a situação piorava. Mais valia ficar quieta à espera que a luz voltasse. Deitou-se no sofá, sem televisão para ver nem aparelhagem para pôr a tocar, e, como que a gozar com ela, o telemóvel apitou por bateria fraca. Deu por si a pensar o quão dependente estava do exterior. Um corte na luz e ela parava, se faltasse a água muito tempo começava a entrar em pânico, esquecia-se do telemóvel em casa e o dia corria mal. Se um dia as coisas ficassem realmente más, como os políticos e os economistas insistiam em dizer, não sabia o que faria. Arrepiou-se, bateu inconscientemente três vezes na perna do sofá (que nem era de madeira) e afastou o pensamento para outro lugar.
Uma tatuagem. Há anos que queria fazer uma tatuagem sem se decidir onde a queria, qual seria nem a que tatuador confiar a sua pele. Pensara numa fada, numa flor, no sol, num golfinho ou numa borboleta...mas por mais que gostasse e se identificasse com os comuns símbolos de vida e beleza não conseguia deixar de sentir que nenhum deles era realmente o tal. E naquele segundo, clara como a água, era como vê-la a pairar à sua frente: ...
(Eu já sei qual é a tatuagem dela. A dela, e as dos outros. Mas não posso revelar mais. Desejem-me sorte para este projecto, e muita força! Eu bem preciso!)
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