segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Quero


Hoje dou por mim a pensar naquilo que realmente quero.
Quero passear pela praia, quero sentir a areia solta entre os dedos dos meus pés, quero sentir o toque arrepiante da água gelada.
Quero correr com o cão por relvados desertos e infinitos, sentir o frio do ar bater-me na cara e as mãos congelarem.
Quero chegar a casa e deixar-me cair no sofá, quero sentir o macio dos lençóis da minha cama, quero ouvir não mais que a chuva a bater forte na vidraça.
Quero tapar-me com uma manta, ligar a televisão e ver o meu filme preferido vezes sem conta, enquanto devoro uma tablete de chocolate.
Quero passar pelas pessoas e ser só mais uma, quero sorrir para alguém e ser aquela, quero simplesmente olhar e não ter de falar.
Quero vaguear por ruas sem fim questionando-me acerca da vida, sem saber quem sou, de quem sou, se és meu, sem saber para onde vou ou por onde quero ir.
Quero estar onde estás, quero ser quem sou, quero amar e viver, quero aceitar a vida como uma aventura.
Quero procurar palavras e não as conseguir encontrar, quero tentar escrever e perceber que me falta a inspiração, quero sentir o vazio da ausência não sei de quê, quero preencher esse espaço de luz.
Quero abrir o livro da minha vida e arrancar páginas amareladas, quero relê-las e sorrir, quero colar pedaço por pedaço, fazer montagens e cortar imagens, quero sublinhar momentos e riscar presenças, quero acrescentar parágrafos e tirar vírgulas.
Quero ser humana e sentir com cada pedaço de mim, quero chorar, quero rir, quero vibrar, ansiar, sofrer, quero que doa, que arda, que custe, quero sentir-me só para que me possa entregar sem limites.
Quero ouvir o som da minha própria melodia e dançar num compasso desnivelado, quero que ninguém veja mas que todos saibam, quero não ter de o dizer mas só de o sentir.
Quero deixar tudo para depois e ter o agora completamente preenchido, quero estar feliz e fechar os olhos à ignorância, quero deliberadamente virar costas ao passado e senti-lo perseguir-me como sombra.
Quero parar de ser corrente errónea e virar-me para o mundo, quero chocar de frente com a realidade e vergar sem sentidos face à sua força imensurável.
Quero saber que mesmo assim não morro, quero continuar a ser eu contra tudo e todos, quero sentar-me no meu baloiço de madeira e sentir os meus pensamentos girar, quero o sobe e desce de sensações que não é mais que eu mesma.
Quero a pulsação da lua cheia nessa noite que é só nossa, quero estar sem ti para sentir a tua falta, quero que o sol nasça e brilhe alto no céu, bem longe de mim, ao alcance de um pensamento.
Quero tudo. Quem não quer tudo pouco mais quer que nada. Mas isso apenas faz dessas pessoas desafios maiores.

2 comentários:

Anónimo disse...

Só consegues surpreender! É um dom. E tu sabes aproveita-lo tão bem.

Beijinho,
Piu

Anónimo disse...

divinal.

dona rita, a contadora de História(s) xD

tens o dom de me cativar com as tuas palavras. sinto exactamente isto será normal? xD

beijinhos
até amanhã numa frequência que já passaste xD